ESTUPIDEZ IMPULSIVA

A idade até que tem feito bem para mim. Fisicamente é óbvio que não. Até os quarenta deixei a emoção tomar conta. Depois de degustar em doses lentas o pão que o diabo amassou com o rabo sujo, passei a fazer uso do bom senso e a razão virou meta. Esforço hercúleo que vem surtindo resultados. Não necessariamente bons resultados. Escutei a vida inteira “Esta menina é geniosa!” Por anos a fio achei ser pejorativo. Quem disse que ser impetuosa é defeito? Em certas ocasiões pode ser uma enorme vantagem.

Meu maior desafio sempre foi conquistar a sabedoria de dosar tudo na medida certa. Sabe aquelas colheres dosadoras? Nem entrei na fila para adquirir meu kit antes de nascer. Carrego no sal ao cozinhar, escrevo demais para falar pouca coisa, depois leio e corto metade do texto, amo ou odeio com todas as minhas forças.

Sou escorpiniana com ascendente em câncer. Signos de água. Água é sentimento. Dá para entender porque me emociono até em inauguração de supermercado.

Tomar as dores de quem gosto também faz parte deste menu variado de emoções. Há quem goste de ser defendido. Alguns definitivamente não.

Meu ex-marido foi assaltado a mão armada. Levaram relógio, dinheiro e o celular zero bala, destes que cozinham e costuram para fora, nem ele nem ninguém tem noção do que o tal aparelho de última geração oferece, mas a tela é grande e dá para mexer sem óculos. Um indiscutível benefício.

Quando soube do ocorrido, munida de insensatez ilimitada, mandei um torpedo para o meliante. Isso mesmo. Enviei uma mensagem nada educada desejando ao ser todo o azar do mundo. Diferente de todas as vezes que fui assaltada, sempre mantive a calma, dialoguei com o facínora e os joelhos tremeram apenas meia hora depois.

Pior que fazer isso é contar para os outros que fiz isso. Estúpida, eu? Imagine. Quase fui apedrejada. Conclui que pau que nasce torto morre torto. Não dá para negar as raízes. Lá no fundinho ainda resta um pouco de emoção e impulsividade.