segunda-feira, 13 de abril de 2015

O abominável Talvez





A rainha da razão se vangloria de nunca, jamais, never, em tempo algum, usar a palavra “acho”, tem síncopes homéricas só de ouvir “eu acho que”. O teclado recusa-se a aceitar a frase, simplesmente trava. Acho é para os fracos. É morno. Nem fervendo, nem gelado. É besta.

Eu mesminha, tão dona do meu nariz, com a língua enorme, que não cabe na boca, me vi escancaradamente na frente de 30 pessoas pagando o mico mais federal da minha jornada na Terra, há 3 semanas.

Pois é. Sabe que eu disse? Uma única palavra: Talvez. Credo cruz ave maria! E falei alto, porque todo mundo ouviu, incluindo o instrutor do curso que me chamou lá na frente, veja que linda cena. Eu lá no fundão, bem na minha, a mais velha da turma, a própria garçonete da santa ceia, levanta, pula todo mundo, parece que estou atravessando o Maracanã, porque não chega nunca aquela frente.

O instrutor, com a paciência de um monge tibetano e um sorriso largo de mil dentes, coloca uma garrafa no chão e fala: Tenta TALVEZ pegar a garrafa. Aff! Preferia fazer a dança do ventre (era uma alternativa no dia anterior no tal curso, piada interna).

Quase morri de vergonha. Quase tentei me matar engolindo a tal garrafa. Talvez é sempre pouco, já é uma desculpa antecipada por não conseguir ou porque você já sabe que nem vai tentar.

Talvez seja talvez tão pequeno quanto acho. Talvez eu vá, talvez compre uma calça de veludo ou case. Talvez eu vá para Itaquaquecetuba ou para Índia, ainda não decidi. Talvez  faça um miojo ou não. Talvez  vá ao cinema ou ao dentista. Talvez eu te ame, talvez não. Quiça? É pequeno demais.

Talvez eu não devesse ter escrito esta crônica, mas me deu uma vontade.

2 comentários:

  1. Pois é, Marot... eu sempre digo que, quem "ACHA"... não acha nada!

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  2. Não é mesmo Guto? Vai achando, achando e no fim de tanto achar, nao acha mesmo é nada.

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