Passei uma semana no interior. Devorei todos os livros que levei. Caminhei, joguei cartas, fiz palavras cruzadas, dormi, encontrei um morcego na lareira e por último resolvi assistir alguma coisa na televisão. No mato, só TV aberta e dando uma de Polyana, até que é bom, não tive tendinite ao zapear já que há poucos canais com sintonia na região. Depois de certo desespero encontrei um programa com uma entrevista do Toquinho.
Eu sou fã incondicional deste músico. Não dá para ficar indiferente ao ouvir o seu dedilhar nas cordas do violão. O instrumento ganha vida nas mãos deste artista. Tirando seu talento inquestionável, é carismático, simples, adorável. Gostaria de conversar horas a fio na mesa de um boteco. Suas histórias com os mestres da MPB são impagáveis.
O que mais me chamou a atenção foi o absoluto respeito que tem com seu público. Despido de qualquer traço de arrogância – com seu extraordinário dom, ele até poderia tem uma pitada de prepotência - afirmou que chega pontualmente aos shows e faz questão de cantar as músicas que o público quer ouvir “Eu tenho que respeitar o cara que vai ao meu show, leva a esposa que se arruma para tal, pega o carro, trânsito, coloca o carro em um estacionamento, compra o ingresso. Como não me importar com isso? Eu existo por causa desta pessoa. Eu vou cantar sim o que ele quer ouvir. Não porque ele está pagando, mas porque está dando valor ao meu trabalho.”
Tenho ou não que respeitar este camarada? Ele subiu mais ainda no meu conceito.
Isso me lembrou do show do Luciano Pavarotti, em 1990, no Pacaembu. Estádio lotado. A maioria de pessoas da “terceira idade” munidas de almofadas. Na época eu era exceção, aos 25 e sem um lugar macio para sentar. Hoje faço parte da turma senil e mais esperta levo um banquinho. O astro atrasou mais de uma hora. Ninguém deu a mínima satisfação. Quando enfim decidiu dar o ar da graça, cantou duas músicas. O povo ovacionou e aos brados pedia o clássico mais famoso do tenor “Nessun Dorma”. Irritadíssimo com os gritos sai do palco batendo o pé como um garoto mimado.
Uma mulher fala ao microfone que o artista está decepcionado e irritado com o barulho e que só voltaria ao palco se houvesse total silêncio. Fui embora. É o cúmulo do desrespeito. A criatura dotada de uma voz magnífica só conquistou a fama por causa do público que estava pedindo a tal canção. Sem os fãs, ele não seria nada, independente do seu talento, agora questionável para mim.
Toquinho e Pavarotti. Dois estilos diferentes. Duas personalidades opostas. Um dá valor ao público o outro pouco se importa. Quem merece meu respeito?
Como disse Milton Nascimento, o artista tem que ir onde o povo esta, sem o povo (público), ele não existe, nem há porque existir, a essência de ser artista é a admiração e reconhecimento de sua arte por um público, por menor que ele seja.
ResponderExcluirMarco Antonio Pinto