Passei boa parte da vida escutando minha mãe dizer Faça o bem sem mostrar a quem. Ainda
criança não entendia bem o significado. Também cresci observando meus pais sempre
envolvidos em alguma ação social.
Ao se aposentar, meu pai realizou seu sonho de mudar-se para
o interior e a ajuda ao próximo ficou mais intensa. Meus pais acordavam às 5h
da manhã para levar café com leite e pão com manteiga aos idosos que ficavam na
interminável fila do INSS.
Minha mãe morreu e meu pai voltou para São Paulo. Não
demorou para engajar-se em outras atividades do gênero. Preencheu todo seu
tempo em colaborar com os necessitados, visitar favelas, organizar campanhas, visitar
os leprosos todo mês na cidade de Pirapitingui. Era viciado em se sentir útil.
Com estes exemplos, tentei seguir o mesmo caminho. Não
consigo assumir uma atitude passiva. Se posso mudar nem que seja um pouquinho a
vida de alguém para melhor, como ignorar? Nada a ver com religião. Cada vez
mais me afasto de qualquer tipo de dogma. De que adianta frequentar igrejas, templos,
centros espíritas, Meca, se no dia-a-dia a gente não faz nada, não transforma
nem a vida de quem está ao redor. É o cúmulo da hipocrisia. Será que para Deus
é mais importante rezar horas a fio ou praticar o bem? O Onipresente é bem
inteligente e sabe identificar como ninguém as fírulas.
Meu filho seguiu o mesmo caminho. Leciona inglês para
adolescentes carentes aos sábados. O curioso é que o dito cujo tem como seu
hobbie preferido dormir. No sábado, ele pula da cama em dois palitos e em
segundos está pronto. E lúcido.
No final de dezembro, o Jornal Nacional passou uma série
sobre voluntariado em diferentes esferas. Foi uma surpresa para um jornal que
dá destaque, todo santo dia, para as mais horrendas desgraças do mundo. A
reportagem mostrou gente de todas as idades, de todas as cores, de todo o
mundo, ilustres desconhecidos que fazem a diferença na vida de milhões de
pessoas.
Fazer algo de bom não é caridade. É o mais genuíno egoísmo. Ao
me envolver em alguma ação, o bem que me faz é insuperável. Devo fazer isso por
mim. Libero endorfina. Fico feliz da vida. Em paz comigo mesmo.
Tem muito mais gente fazendo o bem e ninguém sabe, afinal não
dá IBOPE.
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