ENGANA TROUXA

A televisão vem veiculando um comercial que me deixa intrigada.

Um produto, segundo o fabricante, megarevolucionário. Spray para o cabelo que combate o efeito travesseiro. Jamais pensei que a almofada noturna fosse o inimigo mor das madeixas. E é.

O que aguçou mesmo minha curiosidade é que o tal "reclame" se passa na primeira classe de um avião. Só viajo na classe  turística. Na primeira passo para entrar ou sair do avião e é o único momento na vida que experimento o sentimento sórdido da inveja. 

Sofro muito na geral e arquibancada. Sou a versão feminina do Pernalonga e depois de duas horas de vôo estou lambendo meus joelhos. Tento dormir, viro como um kibe de um lado para outro, no way. É um martírio. A vontade de viajar é infinitamente maior que o sono, então bola pra frente que atrás vem gente.

Voltando ao spray capilar. Acompanhe o raciocínio. Quantas pessoas são afortunadas em viajar na primeira classe? Não seria melhor filmar o tal comercial em uma simples cama? A maior parte da humanidade dorme em cama como gente normal. 

A mocinha com os cabelos rebeldes nas alturas sai da nave com a crina maravilhosamente linda e sedosa. Cabelos esvoaçantes. Nem depois da hidratação e escova, no Jacques & Janine, minha cabeleireira fica igual.

Dá para entender o porque das adolescentes sentirem-se tão inadequadas. Em qualquer comercial ou anúncio de revistas, a galera tem barriga tanquinho, peitos suculentos, bumbum redondo, cabelos ao vento, sem estrias, muito menos celulite. Beiram a perfeição. 

Se eu, quarentona, já me sinto um ponto fora da curva, dá para imaginar o que acontece com estas meninas de 15 anos.
Quem lembra desta "Minha voz continua a mesma, mas os meus cabelos, quanta diferença." Nada mudou. Coisas de publicitário, sem filhas.