sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Morrer está mais difícil

Esta lenga lenga de terceira idade ser a melhor idade tem  limite. Que tal encarar o fato como é e parar de tapar o sol com a peneira?

Fato: a longevidade é maior agora do que na época dos nossos pais. É totalmente sem nexo considerar hoje como idoso uma pessoa de 60 anos. Primos e amigos desta faixa etária tem que portar documentos que comprovem sua idade para não parecerem Manés, usufruindo da lei de Gerson. Pensando bem talvez até estejam. Conseguem se locomover normalmente, pegar ônibus e, sem dúvida, não precisam nem de longe parar em vagas mais próximas à entrada de nenhum lugar. Ficam com vergonha de usufruir dos benefícios concedidos aos sexagenários. O oposto da minha filha que sonha com um RG falso para entrar na balada para 18 anos. Almejam por um RG falso que diminua sua idade.
É frequente o meu contato com pessoas ativas aos 60, 65, 70, 80 no ambiente social e profissional. Cabeça funcionando a milhão, usufruem da tecnologia e colaboram com a juventude inexperiente. 
Meu pai aos 50 anos era um senhor. Vestia-se como um senhor, comportava-se como um senhor, pensava como um senhor. Nada muito diferente ao completar 75 anos, quando faleceu. Se comparar uma foto sua com a de qualquer homem com 50 nos dias de hoje, a diferença é gritante. Ficar velho está mais difícil. Morrer é quase que impossível, faz parte de um futuro muito, mas muito distante.
A medicina é detentora de boa parte dos méritos desta conquista. Prolongou a vida da humanidade, mas até que ponto isso vale a pena?
Li hoje um texto que mostrou de  forma escancarada a realidade da velhice, aquela fase  que nos deixa impotentes. Qual é a vantagem de pagar centenas e milhares de reais para garantir uma velhice segura e tranquila? O que é uma velhice tranquila? Quando é que ficamos velhos, tem idade certa para isso?
Velhice é bem diferente de maturidade. Envelhecer não tem nada de bom. É ser obrigado, sem negociação, a conviver com limitações. É sórdida e vai sorrateiramente minando a liberdade. Cá pra nós, temos consciência disso, só não admitimos. Vamos deixando de existir. E os cuidadores?  O próprio nome já diz, C-U-I-D-A-D-O-R-E-S. A criatura trabalha a vida inteira, cria os filhos, vai e vem com total independência e da noite para o dia precisa ser cuidado? 
Farei uma cirurgia daqui a 10 dias e precisarei de ajuda. Estou agoniada, ainda bem que não agonizando. Alguém que me dê banho,  me ajude a vestir uma roupa, me auxilie a deitar e levantar. É a mais pura demonstração da nossa frágil condição humana. Não é orgulho, é medo genuíno de perder o que tenho de mais precioso, a possibilidade de ir e vir, como qualquer cidadão.
Pensei muito neste texto que li, publicado na Revista Piauí e concordo com cada palavra ali escrita. A velhice decrépita deve ser impedida de qualquer forma, judicialmente se for preciso.
Quem quer viver  alienado, demente, dependente dos filhos? E quem nem  filhos tem? É justo deixar esta responsabilidade para eles? Temos que deixar valores morais, experiência de vida, legado, lembranças felizes, outras nem tanto, faz parte da vida e herança se possível for. Usufruir da presença da mãe sadia mentalmente e fisicamente é legal. Assistir a mãe decrépita é sofrimento. 
Pretendo viver muito ainda, embora não dependa só de mim esta decisão, mas não quero sobreviver. Quero ter qualidade de vida, andar, pensar, conversar, planejar, mesmo com um pouco mais de dificuldade, mas com minha dignidade preservada. Passar meus dias sendo cuidada? Pra que? Ninguém pode me obrigar a esta tortura.
Meu direito deve ser respeitado, se necessário registrado em cartório. Velhice boa é velhice com decência.  Isso vale também para juventude.

3 comentários:

  1. coloca o link do texto da Piauí, sis! Em realaçao ao que escreveu, muito bem! Há lugares em que os sexagenários+ VIVEM, com dignidade. Tenho presenciado exoeriências barbaras, excursões para grupos, programas culturais etc. E por mais irônico que isso possa parecer, o $ que as autoridades têm hoje de empregar na pr previdência é uma das causas da crise na Europa. Trocando em miúdos, os 'velhinhos' que não morrem e vivem bem custam uma grana , por assim dizer, imprevista há alguns anos... De lascar, não?
    Beijos
    Wania Westphal

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  2. Estou com 50, nas portas do 51, sou um senhor? Acho que ainda não...

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  3. Não precisa de uma cirurgia para ser dependente... só um dia com tipóia por causa da tendinite q vejo como é difícil.. Vc precisava ver meu cabelo ontem, penteado pelo meu marido...No caso dele, até que ele cuida bem, mas mesmo assim chega uma outra que o cuidador começa a olhar feio..

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