Nunca fui chegada a programas de índio. Caio vez por outra numa roubada, raras vezes consciente de onde estou me enfiando. Neste feriado eu sabia, não posso alegar ingenuidade nem ignorância.
Dei minha palavra no ano passado que levaria minha filha adolescente e suas amigas para Campos do Jordão no feriado de Corpus Christi deste ano. Uma amiga, Madre Marisa de Calcutá relembrou da minha declaração em junho de 2011 e como palavra é dívida. Lá fui eu.
11 garotas adolescentes. 2 mães abnegadas. Uma no papel de mocinha (linda e paciente). A outra foi o bandido (eu, nem tão linda nem tolerante).
Tirei meu passaporte na Funai, resgatei meu kit indígena inflável – cocar, tacapi, arco e flexa – e demos início aos preparativos. O principal era estabelecer algumas regras para um convívio pacífico entre 13 pessoas durante quatro longos dias. Duas regras foram inegociáveis e deram certo – bebida alcóolica estava fora e hora de buscar no ponto de encontro – entre duas e quatro da manhã – previamente combinadas, todas estavam no local. Bonitinhas!
Não demorou para descobrir que seria uma missão impossível colocar as garotas e suas malas nos três carros. Se elas pegaram recuperação em Física, este feriado foi o melhor método de ensino – dois corpos não ocupam o mesmo lugar ao mesmo tempo.
Alugamos uma van para levar as amostras grátis de peruas e as duas mães relativamente responsáveis pegaram a estrada com quilos de malas lotados com os mais variados modelitos para os passeios da tarde e as baladas noturnas, fora cobertor, lençol, toalhas e bichos de pelúcia.
Duas horas e meia para sair de São Paulo em meio a uma tempestade, somados ao tempo de estrada, cinco horas e meia depois chegamos a casa alugada carinhosamente apelidada de cafofo.
Dividimos os quartos antes da viagem para evitar confusão. Ledo engano. Chegaram, mudaram tudo e fizeram de um dos aposentos um grande closet. Claro que depende do ponto de vista denominar o local como um closet, está mais para muquifo. Para chegar a minha cama precisava vestir uma galocha por medo do que poderia me picar naquela zona. No chão do quarto comida, botas com barro, roupas do dia, da noite, pijamas, celulares, secadores de cabelo, chapinhas, pares de meia descombinados. Algumas decidiram ter menos trabalho e eliminaram a possibilidade de dormir com lençol. Pra que mesmo? Vamos dormir direto no colchão. Afinal, nem conhecem quem dormiu dezenas de vezes antes.
Os dois primeiros dias chovia a rodos. Um gelo, 7 graus. A sensação térmica era bem mais baixa. O ponto alto era a escolha da roupa para passear a noite no centro de Capivari ou para a balada. Confesso que não entendo muito sair de São Paulo, a cidade das baladas, para ir para outra balada em Campos.
Cada moçoila levou dezenas de opções de vestidos “papa nicolau” – são tão curtos que facilitam o exame. Nenhuma usou sua própria indumentária, mas absolutamente todas com vestidos ou saias curtíssimas, meia calça, camiseta regata e jaqueta de couro. Perfeito para Campos no inverno. E não são só as 11. Todas na cidade. E quando falo todas, imagine trio elétrico no Carnaval em Salvador. Era isso. Todos os adolescentes de São Paulo marcaram presença na cidade bucólica.
Todo mundo conhece todo mundo. É um Facebook físico.
Encontraram alguns amigos hospedados num local com uma frase esculpida em madeira, no estilo de todas em Campos, MALOKA. Nesta simpática casinha estavam hospedados apenas 16 garotos adolescentes. Um mimo.
Nos quatro dias foi consumido mais de meio tanque de gasolina para trajetos curtos – da nossa casa até o centro da cidade são aproximadamente dois quilômetros. Foram tantas idas e vindas que perdi a conta.
Paguei minha língua. Sou a rainha da segurança no que se refere à locomoção. Ninguém anda sem cinto de segurança no meu carro. Numa das voltas, felizmente à tarde, uma comoção geral se instalou em plena praça central, com uma chuva torrencial acabando com a chapinha de todas. Todas precisavam voltar para casa para pegar o dinheiro da balada e dar na mão do promoter, afinal ele é o cara. Para evitar o vai e volta, fizemos uma vaquinha e conseguimos levantar o montante. Chuva, frio e fome me fizeram abrir mão de parte dos meus valores e coloquei 13, apenas 13, no carro. Duas foram deitadas no porta-malas no estilo sequestradas, uma delas com 1 metro e 80. Sete no banco de trás e três no banco do passageiro. Isso por si só já era surreal até que uma digníssima teve a ideia de colocar no último volume um funk lindo, uma poesia digna de Vinícius de Moraes, intitulado Vida Loka.
Resolveram na tarde do último dia ficar um pouco em casa para caprichar no visual da noite que seria inesquecível. Sentadas uma em cima da outra assistiram por horas um programa que compete pelo primeiro lugar do pior da TV aberta.
Dormi muito pouco, sai da minha dieta, comi mal. Valeu cada segundo. Ver a carinha de felicidade delas foi divertidíssimo.
Um final de semana com uma alegria indígena absolutamente inesquecível.
Muito bom!!!! Amei!!! Mas tenho que mais uma vez agradecer e lhe dar o troféu pela coragem e paciência, visto que sou mãe de uma delas e fiquei em São Paulo debaixo do meu edredon. Super beijo Marot!
ResponderExcluirDelicioso seu texto, retratou fielmente o que vivi "alguns" anos atrás - Lembra Germana? - quando também íamos em 10,12,14 para a casa do avô de um amigo numa época pré-van, o Expresso Mantiqueira agradece (ou não) até hoje. Passado mais um tempo dois da turma tinham carro, a turma cresceu e as vans continuavam não existindo...
ResponderExcluirAgora vamos ser sinceros, está achando seu feriado cabuloso? Então acompanhe um grupo quase do mesmo tamanho num show no Pacaembú com Marcelo D2, Rappin Hood e 50cent, programado para começar às 15h e, devido ao ensaio do 2º dilúvio, só começa às 20h! e você ali, o "tio mais legal" de todos, tomando conta de 127 mochilas e protegido por uma capa de R$ 0,25 mas que pagou R$ 20,00. Depois dizem que pai só serve para dizer onde está a mãe.
ameei marot! brigada mesmo pelo esforço!! foi otimo o feriado. beijos popis
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