MEMÓRIA DE ELEFANTE

Sou motivo de piada. Tenho um esquisitice, dom, falta do que fazer, espaço sobrando no cérebro. Lembro de todas as datas, todas. Aniversários, casamentos, mortes, começo do namoro, término, noivado, formatura, dos outros. Isso mesmo, dos outros.

Num aglomerado de pessoas, seja qual for o porte, o povo aguarda ansiosamente o bobo da corte chegar, euzinha. Rola uma espécie de bingo. É um frenesi. Eles se revezam para elaborar a questão. Qual o aniversário de fulano que você não vê há 20 anos? E da mãe do fulano? E da quinta namorada? Quando não lembro, o que é raro, BINGO!

Minha tia tinha o mesmo vício. No trabalho ninguém usava agenda. D. Apparecida quando beltrano foi para São José do Rio Preto? Respondia sem pestanejar. E quando sicrano foi contratado? Dia 25 de abril. Batata! A danada acertava todas.

Aos 60 anos, apresentou os primeiros sintomas de Alzheimer. Esquecia uma ou outra coisa. Anos depois, além de esquecer as datas, não lembrava sequer se tinha almoçado minutos antes. Triste,  muito triste.

Estou começando a ficar preocupada. Só em janeiro e ainda estamos no dia 25, esqueci 4 aniversários. Uma heresia. 

Provavelmente seja o sinal de algo muito tenebroso. Tentei me esforçar para recordar o que comi ontem no jantar e não tenho a menor ideia. Estou começando a roer as unhas dos pés, porque esqueci de que tenho mãos.

Minha memória não é mais de elefante. Está mais para pernilongo.