Não fui à primeira edição do Rock in Rio. Fiquei desolada. Com uma euforia tardia me empolguei para ir neste ano. Meu filho de 27 anos cortou meu barato num piscar de olhos e de língua ferina Nem por sonho eu te levo, mãe. São 200 mil pessoas pulando e eu não quero me preocupar com você. Fiquei arrasada, senti cada um dos meus quarenta e cinco anos pesando em meus ombros, justamente euzinha que me sinto jovem e pop (segundo minha segunda cria). Aceitei a dura realidade e me conformei.
O rebento comprou ingresso para um dia de show. Segundo dia. O barato era assistir Red Hot Chilli Peppers. Para falar a verdade eu estava mais interessada no Elton John.
A aventura começou bem antes do Rock in Rio. A compra da passagem para o Rio (ida e volta) e a disputa para um lugar para ficar (duas noites). Procura dali, caça daqui, fuça acolá e encontra uma passagem pela bagatela de R$ 370,00 São Paulo – Rio de Janeiro pela via mais surreal. Pegar o vôo em Guarulhos e pousar no Galeão. A via sacra foi muito mais cruel para chegar aos aeroportos do que o tempo de viagem entre as duas cidades. Dormir? Para que mesmo? Em albergue da pior categoria. Esta é a maior vantagem de se ter vinte e poucos anos.
Raramente assisto TV, principalmente aberta. Neste final de semana estava no interior de São Paulo em que só pegava a Rede Globo. Dia e noite foram inúmeras as chamadas ao vivo transmitindo o evento mais importante dos últimos anos na cidade maravilhosa. Cheguei a pensar que era pessoal, que eles tinham a maligna intenção de me cutucar. Cai em mim e percebi que a Poderosa nem sabe que eu existo.Aquela minha frustração por não ter ido pareceu aumentar gradativamente à medida que eu via milhões de pais com filhos, isso mesmo, minha gente, progenitores e seus rebentos embalados pelo mesmo som e dividindo a cerveja. A fúria foi tomando conta do meu ser. Vi crianças, pequeninas, indefesas, dançando loucamente e curtindo aquilo tudo sem ter a menor noção de onde estavam, pérolas aos porcos. E, eu aqui, chupando o dedo.
Enquanto a indignação consumia minhas entranhas, uma repórter empolgadinha metida a teen, direto do Rock in Rio, descreve o perrengue de quem programou antecipadamente sua ida aos shows mais irados do planeta. Centenas de pessoas enganadas que compraram seu traslado para a Arena chegam ao local do embarque e o ônibus sumiu. O piloto também. Mais de mil casos de roubos foram registrados em um dia e meio de evento. Jovens choravam – seus ingressos, para todos os dias, sumiram assim – puf. Me vi no meio de sentimentos antagônicos – alívio por não estar lá e medo misturado com vergonha antecipada pelo que virá na Copa de 2014, transmitida ao vivo apenas para o mundo inteiro.
Mais serena penso no que o meu filho vai perder. Este ano foram três celulares, um cartão de crédito, um de débito, algumas chaves de casa, uma calça, um colchão inflável e outras coisinhas que ele nem sabe que tem. No meu carro encontrei um copo de cristal, lindo. Um amigo esqueceu na viatura. A mãe do avoado deve estar se descabelando ou culpando a infeliz da empregada pelo sumiço da peça.
Fizemos um bolão em casa para ver quem adivinhava o que o jovem iria perder desta vez. Os palpites foram os mais variados. Quando o ser chega, antes de perguntar se o show foi legal, todos falam em coro – O que você perdeu desta vez? Ele responde com um sorriso diferente do de costume– Nada. Tá tudo aqui. Perdi apenas um pedaço do meu dente. Realmente era só o que faltava.
Marot Gandolfi
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