sexta-feira, 29 de julho de 2011

Pena de Vida

Vivemos numa cidade violenta. Ninguém pode negar. Fato consumado.
Assaltos, homicídios, estupros estampam as primeiras páginas de jornais de grande circulação, revistas semanais e são destaque nos telejornais. Os apresentadores até ensaiam uma feição consternada ao narrar a barbárie e, num piscar de olhos, mudam a chamada e o tom de voz vira uma alegria indígena para anunciar os gols do campeonato brasileiro. Isto é só com a imprensa? Antes fosse. Acontece com cada um de nós.
Pareço o Madxwell Smart para entrar no meu prédio com tanto portão, porta e grade que tenho que ultrapassar para chegar em casa. Só que ao contrário do Agente 86, isto não tem graça nenhuma.
Tenho que andar com os vidros do carro fechados até num lindo dia de sol.
Devo agradecer ao passar pelo stress de ser assaltada se apenas levarem meu carro, meu celular, meu GPS, meus documentos, meus cartões e minha grana? Sim, o camarada foi bacana e não me metralhou. É uma versão pocket da Síndrome de Estocolmo.
Na frente de casa, na calada da madrugada, vi um cara levar quatro tiros sem ter tempo de esboçar qualquer reação. Não pude fazer nada, exceto ligar para a polícia. A sensação de impotência foi tão desesperadora que comecei a vomitar sem ter nada no estômago.
Passadas algumas horas, tudo voltou ao normal. Pessoas circulavam pelo lugar sem ter noção do que aconteceu. A maioria nem sabe o que aconteceu.
Confesso que esta violência gratuita tem instigado o meu lado mais primitivo. Eu era contra pena de morte até este dia. Não sou mais. Recuso-me a viver uma pena de vida. Isso não é vida. A impunidade é tão descarada que não tem outra saída.
E a vida continua, a que preço?


Marot Gandolfi

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