Sou do tempo em que assistir a Miss Universo era um baita evento. Toda a família toda se reunia em volta da TV, durante muitos anos em preto e branco. Torciam mais do que em final de Copa do Mundo. Monumentos em forma de mulheres, exuberantes, daquelas que dão inveja declarada. Todas, sem exceção, escolheram O Pequeno Príncipe como sua obra preferida. Nem o príncipe aguentava mais esta chatice.
A Marta Rocha, no final dos anos 60, mexeu com toda a nação. Maravilhosa, parava o trânsito em qualquer lugar do planeta. Suas duas polegadas a mais lhe tiraram o título. Uma desolação geral, gente querendo espancar a TV, gritando os mais pesados impropérios, perdendo o pouco de compostura que restava.
Muitos anos se passaram e nunca mais soube de um concurso de miss. Achei que não existia mais, coisa do século passado. Qual não é minha surpresa quando descubro por acaso este ano, minutos antes de começar, que o Concurso de Miss Universo iria acontecer aqui em São Paulo e transmitido ao vivo. Resolvi dar uma espiadinha. Entra uma, sai outra e assim vai. Bonitas? A maioria. Exóticas? Algumas. Elegantes? Várias. Alguma que se destaque? Não. Todas iguais. Se cortar do pescoço para cima, não tem diferença (exceto a Miss EUA que certamente sofre de anorexia e causa nervoso em quem estava vendo – ela vai quebrar a qualquer instante). É impressionante de cada uma elas é exatamente igual. Altas, pernas extremamente finas, barriga tanquinho, peitos comprados e nada de costas. Eu pensei que estivesse numa destas lojas de brinquedo, em frente à prateleira das bonecas Barbie. O que diferencia uma da outra é a roupa e a cor do cabelo.
Coisa mais sem graça. A Marta Rocha perdeu por causa das duas polegadas a mais. Neste novo século, todas tem dez polegadas a menos. Cadê o recheio? O jogo de cintura? O andar sensual, provocativo, sedutor? São cabides bonitos. Que pena!
Para encantar o mundo, escolheram a Claudia Leite para cantar. Ela dá conta do recado. É boa de show, canta e dança bem, tem presença de palco, uma excelente representante da nossa pátria amada, nem sempre precisa rolar um samba com o Zé Carioca de fundo, por que não Axé? Afinal também é um ritmo brasileiro. A moçoila entra vestindo um maiô de paetê e cantando em inglês acompanhada por moços pra lá de sarados numa dança sensual. Absolutamente surreal. É a Beyonce tupiniquim. Não sei o que é pior se o gênio que teve esta ideia ou ela que aceitou.
Nem tudo foi um horror. Entre mortos e feridos, um foi salvo. A Miss Universo escolhida foi a Miss Angola, a melhor de todas sem dúvida alguma. Sensual, elegantérrima, um sorriso contagiante, chique e magra até não poder mais, como não poderia deixar de ser.
Marot Gandolfi
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