quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Os olhos não vêem o coração não sente

Fui a uma única festa de debutante na minha vida, há 30 anos, quando eu tinha 15. Minha filha, só no primeiro trimestre, teve mais de 10 megaeventos.
Um casal querido nos convidou para 0 aniversário de sua filha. Fiquei saltitante.
A amostra grátis de perua que reside na minha casa não acreditou - Você tá brincando, né, mãe? Você não vai fazer eu pagar mico? Que gente sem noção convidar pai e mãe para uma balada de 15 anos. Me fiz de desentendida e ignorei o comentário.  
Qual roupa uma quarentona usa em festas de debutantes? Nem por sonho posso usar a indumentária que as garotas usam, as saias são tão curtas, mas tão curtas, que eu seria presa por atentado ao pudor. Troquei ideia com outras mães e cheguei à conclusão óbvia - pretinho básico.
Levamos mais três minipessoas. O pavor do trio em pagar um orangotango chegando com os pais em plena festa foi típico de Síndrome de Pânico em estágio avançado. Suavam frio, tremiam, rezavam, imploravam para descer antes.
Logo na entrada me chamou a atenção um fato inusitado nunca fui a uma festa em que tivesse revista na porta. Segurança é fundamental, agora  abrir a bolsa, mostrar os bolsos, tirar os sapatos para entrar numa comemoração particular é um pouco forçado.Tudo tem uma razão de ser. Quem mais trabalhou e suou a camisa no evento foram os leões de chácara. A quantidade de garrafas de bebida dos mais variados tipos para bar nenhum botar defeito, era de assustar.
Existe um ritual que antecede a festa o "esquenta". A  galera se reúne na casa de um deles - não sei se com ou sem a conivência dos pais, prefiro acreditar que sem - e enchem a cara. 
Os pequenos meliantes, nem tão pequenos assim, levam garrafas escondidas nas mochilas, acessório bem apropriado para uma festa a rigor.
Ficamos meio que escondidos perto do bar para evitar um linchamento, afinal eramos os intrusos naquele ambiente. O local estratégico me permitiu presenciar o poder de persuasão da garotada, deixaria qualquer político em Brasília de queixo caído. O Congresso Nacional é café com leite, verdadeiros aprendizes. Nunca vi tanto 171 na minha vida. O barman foi irredutível, ao menos neste bar ninguém conseguiu uma única gota de álcool. Como se dá um jeito para tudo nesta vida, falta de etílico não foi o problema. 

Vi vários meninos e meninas dando PT. A cena que chocou todos os presentes, foi um menina sendo carregada pelo pai da aniversariante que vomitou nela mesma, seu "tomara que caia" caiu e o vestido subiu até a barriga. Deplorável. A jovem bêbada foi jogada como um bacalhau - no melhor estilo Chacrinha de ser - no carro do próprio pai que indignado replica - Quem deixou meu bebê se embriagar? Se eu estivesse perto teria pulado em seu pescoço enrugado Você mesmo sua anta, cadê o limite?
Após a festa foi feito o inventário de bebidas com o buffet.  Inexplicavelmente, encontraram 22 garrafas de vodka que não foram levadas por eles.  Será que a fada do álcool estava por lá? Não. É a ousadia, falta de respeito e falta de limite desta geração sem noção e de pais pra lá de ausentes.
Eu era feliz e não sabia antes de ter ido a esta festa. O que os olhos não vêem o coração não sente.

Marot Gandolfi

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