quarta-feira, 28 de setembro de 2011
A duras penas
Nada é mais indiferente do que aquele que a gente amou e deixou de amar.
Não existe mais, não deixa rastro, nem uma única lembrança. Mais fácil ter empatia com um completo desconhecido. Sem expectativa, nem ressentimento, não há nada, um ensurdecedor e gelado vazio. Mágoa, saudade, bem querer ficam no passado distante. Um mero resquício de um momento inesquecível não resiste a total indiferença. Quem disse que o amor não tem limites nunca deixou de amar ninguém. Uma linha tênue separa o amor da falta de amor total. Na paixão a gente abre a guarda, aceita tudo, não há certo nem errado até que uma inofensiva poeirinha cai como uma bomba nuclear arrasando tudo que está pela frente. Um nada põe tudo a perder. O que era a razão da minha existência vira pó. Não resta pedra sobre pedra. Fim.
Um processo dilacerante e sem qualquer traço de lógica. Cade o bom senso? Vale a pena viver um amor cego, surdo e mudo? Por que buscamos desesperadamente viver um grande amor, destes de cinema? Porque no fundo absolutamente nada se compara a sensação de se amar e ser amado. Somos humanos, somos carentes. Até a mais incrédula criatura alimenta a ilusão de que o amor vai salvá-la de todos os males. A única certeza é que tudo acaba. É sagrado, tudo tem começo, meio e fim. E ponto. Quando o tal cisco cai sem dó, sem pedir licença e, como num passe de mágica, faz a gente enxergar que a razão da nossa existência é fruto do nosso desejo, o príncipe vira sapo.
Tudo bem, minha felicidade depende só de mim. Fácil falar, difícil acreditar.
Ainda desconheço o motivo pelo qual todos apostam todas as fichas numa jogada fadada ao fracasso? É possível que seja um aprendizado a duras penas. Duríssimas.
Marot Gandolfi
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