sexta-feira, 17 de junho de 2011

Resignação

Resignação foi uma das palavras que mais me tirou do sério. Passei um bom tempo da minha existência ouvindo meu pai dizer que eu devia aprender a ser mais resignada para não sofrer tanto.  Esta ladainha começou desde a mais tenra idade e piorou muito na adolescência. Por conta disso fui taxada como geniosa. Por melhor que fosse a intenção dele como progenitor, era sempre pior a emenda que o soneto. Para mim, resignação era o mesmo que conformação, coisa que definitivamente não sou e nem faço o menor esforço para ser. Como posso me conformar com injustiça? Com falta de iniciativa? Com falta de profissionalismo? Com falta de caráter? Com desumanidade? Com pedantismo? Com desrespeito? De jeito algum.
Nesta noite insone esta palavra começou a povoar meu pensamento e aporrinhar meu sono. Virei para um lado e para o outro da cama. Levantei, tomei um chá. Deitei. Levantei de novo, andei pela casa e voltei. Até que o texto inteiro estava com começo, meio e fim, na minha cabeça, é claro.

Não teve jeito e sentei em frente ao computador. Procurei no meu mentor, o Google, o significado correto da palavra que povoa meus piores pesadelos. Segundo o dicionário on line, resignação é a submissão à vontade de alguém, ao destino: sofrer com resignação. Demissão voluntária de um cargo. Renúncia a uma graça, a um lugar, a uma função.

O que era ruim ficou pior ainda. Não tem saída, não sou resignada. Será que vou queimar nas profundezas do mármore do inferno?

Aceitar os perrengues que a vida nos traz sem nenhum aviso prévio é uma questão de inteligência e não de resignação. Não temos controle sobre tudo. Diante de uma adversidade é básico ter equilíbrio, bom senso e discernimento para lidar com a situação. Falar é tão fácil, fazer é que são elas. Por mais que o caos seja involuntário e chato pra caramba, aceitar e enfrentar é uma coisa, resignar-se diante do obstáculo é outra.

A tal resignação me soa como entrega. Como o papel de vítima. Odeio os personagens que fazem papéis de coitados em qualquer trama. Torço pelo bandido quando  o bonzinho é irritantemente bonzinho. Ser do bem é fantástico. Ser tonto são outros quinhentos.

Provavelmente, a esta hora da madrugada, meu pai, esteja onde estiver do outro lado, deve estar se revirando com as minhas palavras. Talvez eu não tenha amadurecido o suficiente para compreender o verdadeiro significado da palavra resignação. Calma, pai, ainda tenho um tempinho pela frente.

Marot Gandolfi

2 comentários:

  1. De fato. Resignação é uma merda. Necessária ? Mas o que fazer se não a temos e o objeto resignado pulula sua impossibilidade ??

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  2. se esse "objeto" trata-se de uma pessoa, mesmo um familiar, assinalado por perturbações ou transtornos obsessivos, simples ou graves, este, é um caminhante da evolução como tu, e que está ao seu lado, é porque podes e deves socorrê-lo, pois enquanto também aprendes, de certo, algo em que em ti necessita melhorar.

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