quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nós, os idiotas

Meses atrás o assunto mais comentado nas redes sociais era o tal blog milionário da Maria Bethânia.
Confesso que demorei um pouco para ficar por dentro do assunto. Preferia nem ter visto, mas é tarde demais.
A cantora da tropicália, dona de um vozeirão, afinada como ela só, que já deu vida a composições de grandes mestres da música popular brasileira, do tempo em que as obras tinham letras riquíssimas e melodias encantadoras, resolveu fazer um blog. Mais do que na hora, afinal a internet é parte da vida de todo mundo, incluindo os amantes da música. Ao invés de criar seu blog como todos nós, pobres mortais, a cantora solicitou ao Ministério da Cultura que tem como ministra a Ana de Holanda, uma verba para preparar o blog e colocá-lo no ar para uso da população. Para quem não sabe, criar um blog não custa um único centavo. Eu criei e não gastei um tostão. O papa Bento XVI pode fazer um sem investir nada do tesouro do Vaticano, a Kate Middleton pode fazer um sem mexer nadinha na grana do Palácio de Buckingham, o Fernandinho Beira-Mar também, sem comprometer a féria do tráfico, inclusive você sem afetar seu orçamento. Sabe quanto o Ministério deu para a Maria Bethânia criar seu blog? Um milhão e trezentos mil reais. Um blog milionário. Qual a justificativa? Incentivo à cultura. Por que o dito cujo custa esta fortuna, porque 365 clipes serão dirigidos por Andrucha Waddington. O que temos com isso? Ela pode escolher para dirigir a bagaça quem ela bem quiser, Spielberg seria uma boa escolha. Ela que pague por ele. Sabe quem está pagando por esta direção hollywoodiana?  Os 200 milhões de brasileiros.
Fiquei indignada. Eu e as torcidas do Flamengo, Corinthians, Atlético Mineiro, Grêmio e demais times. É insulto ao bom senso.
Apesar da comoção e revolta geral, sabe o que aconteceu? Nadinha da silva.
Antes eu indagava cá com meus botões, se os detentores do poder achavam que nós, os brasileiros, éramos idiotas.  Deixei de achar, agora tenho certeza.
Cultura? Música também é cultura. Mas é disso que o povo brasileiro precisa para ter mais acesso à cultura?
Todo santo dia leio barbaridades que me fazem correr três dias sem olhar para trás. Profissionais formados em faculdades escrevem textos que são ininteligíveis recheados por erros gramaticais crassos. Nunca leram um livro sequer. Nunca foram a um teatro. Não sabem o que é um museu e para que serve. Exposição, perda de tempo. Nossas crianças precisam ter acesso à cultura desde a mais tenra idade para, quem sabe, terem implantado em seu DNA o gosto pelas artes cênicas, plásticas, musicais. Chega de funk e pagode, isso é uma afronta à cultura.
Somos acomodados, isso sim. Nossos hermanos, por muito menos, invadem as ruas de Buenos Aires com panelas na mão fazer estardalhaço, ou melhor, um panelaço, gritando aos quatro ventos seu desaforo. E nós? Reclamamos, escrevemos posts no Facebook, Twitter e continuamos a trabalhar para ganhar o pão nosso de cada dia. Eu me incluo nesta categoria para minha desolação.
Meu manifesto quanto a este caso inescrupuloso será só um. Deletei todas as canções interpretadas por Maria Bethânia do meu MP4, pen drive, notebook. Quebrei todos os CDs que ainda guardava com carinho e, é logico, não entrarei uma só vez neste blog. Nos page views deste blog não terá um só clique meu.
Não sei o que é mais asqueroso. Se a Ana de Holanda, como ministra da cultura, se sujeitar a isso ou a própria Maria Bethânia, a quem eu admirava, propor uma indecência dessas. Como diz Boris Casoy, é uma vergonha.
Sou idiota, mas com certo limite.

Marot Gandolfi

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