segunda-feira, 2 de maio de 2011

Marinheira de primeira viagem


Estar grávida é estar em estado de graça. Depende do mês. Tem semanas que a gente não acha graça de coisa alguma.
Descobrir que está esperando um filho é realmente algo inexplicável. A gente acha que só acontece com os outros. Dá um frio na barriga. O primeiro impacto é uma felicidade indígena. As que sofrem no primeiro trimestre não acham tão divertido assim, enjoos, tonturas, falta de fome ou uma vontade incontrolável de comer seja lá o que for, mas faz parte do show.
Quase todas as moçoilas lêem O que esperar quando você está esperando. Confesso que até ajuda em alguns temas, mas tem coisas que só aprendemos na raça.
Passado os três primeiros meses, perdemos a cintura, os seios ficam bem mais volumosos (tudo tem o lado bom menos o LP do Benito di Paula), as calças não entram mais e as camisas não fecham. É um caminho sem volta.
O bebê começa a mexer. A sensação é absolutamente fantástica, exceto quando ele insiste em fazer alongamento nas nossas costelas.
Lá pelo quinto mês, o médico recomenda o uso de meias de alta compressão, aquele acessório bonito, elegante e sofisticado com muitas opções de cores. Fora que vestir aquela bagaça ninguém merece. Legal mesmo é ter que usar a dita cuja no verão.
O mundo inteiro quer dar um pitaco na vida da futura mamãe de primeira viagem. A grávida, coitada, tem ouvido de pinico para escutar dicas, sugestões, palpites, receitas, conselhos.
A maioria surta. Se escutar todo mundo, vai correr três dias sem olhar para trás.
Pessoas que nunca a viram roçam sua pança sem a menor cerimônia. Começa o inquérito - Você tem azia? Será cabeludo. Mostre sua mão. Se a grávida mostra a palma da mão é menina, se mostra o outro lado é menino. Se não tiver mãos, sei lá o que vai ser.
Eu tive duas gestações. Curti uma barbaridade cada uma delas. E, para não fugir à regra, tenho cá algumas dicas básicas:

- fuja de lojas de roupas para grávidas. Hoje existem boutiques fantásticas para esta fase, mas os preços são abusivos e se fizer a conta, não vale a pena, você vai ter que gastar muito em fralda daqui para frente. Após o nascimento do rebento a última coisa que se quer é usar aquela roupa de novo. A gente que mais é entrar numa calça skinny de novo pelo amor de Deus.

Quando fiquei grávida, as roupas para gestantes não eram mais ridículas por falta de espaço. Sofri o pão que o diabo amassou com o rabo para encontrar vestimentas decentes. Por que os estilistas teimavam em achar que a gestante tinha que usar vestidos com laços e mangas bufantes? Nem quando criança este modelito caia bem em mim. Eu sou alta, grande, nunca pude usar algo mais delicado. Pareço um peru num pires. Fico absolutamente deselegante com laços e babados. Não teve outro jeito - usei calça legging e camisão até o último dia.
- preparando o enxoval da mamãe para a maternidade – minha filha nasceu no inverno. Comprei camisolas longas lindas e um peignoir maravilhoso com pantufas combinando. A perua mirim viria num mês frio. Agosto daquele ano fez um calor senegalesco. Meu marido teve que comprar às pressas um peignoir de verão, porque eu não sabia o que mais incomodava se os pontos da cesariana ou o suor em bicas.
- aproveite os 4 dias da maternidade como um SPA, vai demorar muito para você ter novamente uma noite de sono com mordomia. Por mais que a gente queira comemorar a chegada do herdeiro com toda nossa família, amigos, cachorro, papagaio, lembre-se que você sentirá muita saudade de uma noite com 8 horas de sono ininterrupto. Isso faz parte do passado.
No nascimento do meu primeiro filho, no momento das contrações, havia apenas 11 amigos e amigas comigo no quarto. Uma chacrinha. O médico entrou e acabou com a festa. Alguém chamou o síndico e não foi o Tim Maia. Quando dei a luz a minha filha, no terceiro dia, um sábado, a balada foi no meu quarto dentro da maternidade. Tinha tanta gente, mas tanta gente, que algumas pessoas eu nem conhecia, talvez nem elas me conhecessem e tivessem sido atraídas pelo rango. Num determinado momento eu levantei a passos de lesma para ir devagarinho ao banheiro. O trajeto da cama ao vaso sanitário era semelhante ao caminho de Santiago de Compostela. Depois de duas horas cheguei, fiz o que tinha que fazer e voltei. Quando abro a porta do banheiro para voltar ao quarto, tinha gente em pé, gente sentada nos sofás, nas cadeiras, na escadinha e meu marido roncando na cama da parturiente. Eu simplesmente não tinha lugar para ficar. Fui para o berçário descolar uma cadeira. O pior é que quando sai do banheiro senti um cheiro de suor brabo. Olhei para o lado e vi milhares de bandejas de esfihas, quibes, pão sírio, homus e babaganuche. Nem os herdeiros do Habib's teriam esta ideia. E eu que queria servir Proseco em taças com minibiscoitinhos de amaretto. Poderia ter sido pior, algum iluminado ter o insight de servir cachorro quente com tubaína.
- encomende o almoço para o dia que você sair da maternidade. Eu saí do hospital com o meu rebento, meu filho mais velho, meu marido e meu sogro. Eu queria mesmo e ter saído com a enfermeira, não teve negociação. Cheguei em casa e fiz o almoço para a galera. E já existia delivery. Não faça isso com você.
- o nenê vai mudar tudo na sua vida – mentira deslavada. Vai mudar naquilo que você deixar. Esta coisa que a casa tem que virar uma masmorra, em completo e total silêncio, é insano. Quando tiver jogo e os fogos começarem a explodir a criança vai ficar desesperada. Não se abre a janela para não entrar uma nesga de ar, é surreal. Não é o vento que provoca resfriado, é vírus. Janela fechada, quarto abafado é que proporcionam um ambiente fértil para os bichinhos se multiplicarem. Não vamos colocar a amostra grátis de pessoa no meio do vendaval, mas ventilação no quarto, na sala, na cozinha é uma questão de sobrevivência e higiene. O recém-nascido ficar agasalhado como um esquimó é pura babaquice. Frio é aquilo que mãe sente e obriga o filho a sentir também.
É básico ter respeito pelo pequeno ser. É uma simples questão de bom senso. Ninguém em sã consciência vai levar um bebezinho de dias na 25 de março, nem num baile de carnaval, mas ele pode e deve passear, viajar, ficar junto dos pais e familiares quando todos estiverem vendo TV, visitar as pessoas.
Não é colocando a criança numa redoma de vidro que se garante sua total segurança. Este criaturazinha precisa viver, pisar descalço, beber água do mar, tomar sorvete, se lambuzar, brincar com outras crianças, pegar gripe, comer biscoito que caiu no chão, cair, esfolar a canela e levantar de novo. Assim ela cria imunidade e vive.

Afinal, tudo isso aconteceu com a gente e estamos aqui, firmes e fortes.


Marot Gandolfi

2 comentários:

  1. E esqueça aquela mania horrorosa de exigir que aquele q for pegar o bebê tome um banho de álcool antes.

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  2. Vc tem razao. Fora os pais maníacos que exigem que você se banhe em alcool gel antes de se aproximar do pequeno ser. Nem o isolamento do Einstein ou do Emilio Ribas é tão rigoroso.

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