quarta-feira, 11 de maio de 2011

Brasil - até que enfim o país do presente


Participei de um Congresso de Comunicação e fiquei estupefata com o estágio em que o Brasil está em relação à Copa do Mundo e às Olimpíadas.
Não me refiro às obras de infraestrutura – aeroportos, transporte urbano, redes hoteleiras, nem à segurança. O povo brasileiro ainda não comprou a ideia até porque ainda não foi vendida a ideia para o público principal – a população do país inteiro.
Estamos tão cansados da roubalheira, do superfaturamento das obras públicas, da desonestidade de nossos políticos, que a descrença tomou conta de todos.
A mídia preocupa-se em alardear que tudo está atrasado. Os aeroportos que já não tem mais capacidade para atender o mercado interno e vão viver um verdadeiro caos nestes eventos. O transporte urbano que é deficitário faz muito tempo. A segurança que deixa muito a desejar.
O povo brasileiro não tem noção das oportunidades que eventos mundiais deste porte podem trazer ao país como um todo. A melhoria na infraestrutura pode ser um legado para o Brasil. As obras não são implodidas no término da Copa e das Olimpíadas. Se construídas com critério e bom senso serão um benefício para toda a população.
Barcelona estava em franca decadência antes da Copa. O governo espanhol empenhou-se em preparar a cidade para receber este evento de magnitude incomparável. Que mágica eles fizeram? Começaram pelo principal – convenceram os cidadãos espanhóis sobre a insuperável oportunidade de mostrar para o mundo inteiro o que a Espanha tem a oferecer. Foram investidos bilhões de dólares. Nos anos que antecederam a Copa, o país vivia para isso. Os espanhóis compreenderam e participaram. Resultado: após a Copa, Barcelona transformou-se no 3º destino turístico mais procurado no mundo até agora.
Estes eventos mundiais colocarão o Brasil numa janela aberta para todos os países. 7 bilhões de pessoas estarão vendo o nosso país em tempo real e nós ainda não conseguimos entender a dimensão disso.
Quem sabia que o Brasil estava concorrendo para ser a sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas? Quase ninguém. Quem comemorou esta conquista? Ninguém. Por que será? É claro, nós não compramos a ideia, porque não conseguimos entender ainda o que pode significar.
As cidades-sede vão viver um impacto enorme nos próximos anos para poder receber turistas do mundo todo. Será um caos no trânsito. O que o cidadão tem com isso? Terá que ter tolerância. Não adianta praguejar.
Uma amiga andou de táxi nos últimos dias. Puxou conversa com três motoristas sobre isso. A resposta foi unânime. Nenhum deles acredita que a Copa e as Olimpíadas vão ajudar o Brasil em nadinha. Vão servir, isso sim, para o governo e seus parceiros encherem mais ainda seus bolsos com o superfaturamento das obras. Beneficiarão, para variar um pouco, somente as classes mais abastadas. Está tudo atrasado, as construções dobrarão seus valores para atenderem no prazo e tudo vai terminar em pizza. O velho e bom jeitinho brasileiro. A tal asquerosa lei de Gerson.
Precisamos perder o complexo de vira-lata. O Brasil tem a melhor performance do BRIC. É visto pelo mundo inteiro como a grande potência emergente. Não somos mais o país do futuro. Somos o país do presente.
Da mesma forma que a seleção brasileira de futebol, a favorita para vencer a Copa, terá que dar um duro danado para ser campeã aqui e os atletas que competirão nas Olimpíadas terão que se empenhar em dobro, afinal a pressão será gigantesca, o povo brasileiro também precisa fazer sua parte.
A seleção brasileira formada por estrelas do futebol mundial tem que descer do salto. Precisam esquecer seus salários astronômicos. Precisam entender a importância de dar o sangue, suar a camisa e fazer jus ao uniforme que vestem.
Na África do Sul, Nelson Mandela sabia que o país ainda era racista e com graves problemas econômicos por causa do apartheid. O país iria receber a Copa do Mundo de Rúgbi e ele enxergou a oportunidade de usar o esporte para unir a população. Convocou o capitão da equipe sul-africana, François Pienarr e o incentivou a dar tudo para vencer a competição. O atleta comprou a ideia e contagiou seu time. Será que o governo brasileiro pensou em algo do gênero? Tenho medo que algum jogador da nossa seleção resolva arrumar a meia antes de bater um penâlti ou até amarelar na final, se chegar à final. Tenho receio que se perder, o time saia de campo sorrindo, dando tapinha nas costas de seus adversários e vá para a balada em seguida com se nada tivesse acontecido. Com este cenário, não há Cristo que compre a ideia da importância deste evento para o país.
Vender o Brasil para fora não é fácil. Vender para o brasileiro é muito mais difícil. Não acreditamos que nosso país é confiável.
Os patrocinadores dos eventos e dos atletas deveriam juntar suas forças e não competirem entre si para ver quem aparece mais. Potencializar esta paixão, própria dos tupiniquins e que nenhum outro país tem. O governo e as entidades privadas têm que aceitar este desafio, juntos. É muito mais que merchandising. É responsabilidade social com resultados realmente significativos.
A energia negativa da angústia – o atraso na entrega das obras, o superfaturamento, a falta de estrutura, pode com esforço e sinergia transformar-se em energia positiva através de trabalho sério, planejamento e estratégia. Consequentemente teremos sucesso e êxito.
A palavra-chave é confiança que infelizmente não está no DNA do Brasil.
Está mais do que na hora de mostrar nossa competência, talento e capacidade. Afinal, somos brasileiros, não desistimos nunca.



Marot Gandolfi

Um comentário:

  1. Pois é Marot, tá difícil. Mas não podemos perder as esperanças, não é mesmo?
    Estamos em João Pessoa, PB, ou seja, entre duas sedes (RN e PE). Tentamos ser subsede, a "grande oportunidade"!!!
    Como cidadãos e como trabalhadores da cadeia de cultura e turismo, a gente ficou bastante animado. Mas passou. O que aconteceu? Para ser subsede é preciso ter pelo menos 25 mil leitos e a capital da Paraíba só tem 5 mil...
    Será que Campo Grande, MS, sede da Copa, e que tem a mesma população de João Pessoa, tem mais de 25 mil leitos? Nada contra a Maravilhosa Campo Grande, só estamos citando para tentar entender os critérios...
    É por isso que a gente fica mais contagiado de desconfiança em vez de comemorar as chances de novas oportunidades...
    Triste, né?

    abs, Francisco e Sandra
    BABEL DAS ARTES (de João Pessoa, PB -- entre as 2 sedes RN e PE).

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