quinta-feira, 7 de abril de 2011

Rebimboca da parafuseta

Tenho sorte com amizades. Não posso reclamar. No que diz respeito a serviços públicos ou privados sou o cúmulo da azarada.
Sei lá se eu atraio ou é má sorte mesmo. O que é fácil para a maioria dos seres normais para mim é um perrengue histórico.
Fila indiana é comigo mesma. O mundo todo vai ao Poupatempo e resolve rapidinho suas pendências.  Eu levei apenas 7 HORAS de suplício para tirar uma nova carteira de identidade. Para renovar o visto americano foram 4 horas. Enquanto esperava, pensei até em trocar o destino, quem sabe o Paraguai, deve ser mais fácil.
Hoje estou inconformada, uma palavra bem light para o que estou sentindo. Que lei da atração que nada. É pura falta de respeito ao consumidor. O SAC deveria ser SACC - Serviço de Aporrinhação ao Cretino que Comprou.
Em julho do ano passado comprei um notebook da Dell. Pesquisei uma barbaridade antes de adquirir o trambolho. Cheguei à conclusão que a melhor relação custo x benefício (expressão mais do que banalizada e não aplicada atualmente) era o tal Inspiron 1564. O bicho vinha turbinado, último tipo, bancos de couro, vidros e travas elétricas, desembaçador traseiro, câmbio automático e de brinde insufilm. Só não costurava e cozinhava pra fora. O que mais me interessava nesta oferta era a assistência técnica, tanto online, quanto in loco e a garantia estendida pela qual paguei à parte. O tal seguro até cobria a troca do computador se eu tivesse Mal de Parkinson e derramasse suco, água, café e outros líquidos. Me certifiquei de todos os detalhes sobre o tal serviço antes de dar os dados do meu cartão de crédito. Seguro morreu de velho. Confesso que lá no fundo fiquei com um filhote de pulga atrás da orelha. Pensei que era implicância minha.
Inocente, no melhor estilo Alice no País das Maravilhas, acreditei que estava fechando um negócio da China. Não pelo valor que ficou bem longe de ser uma pechincha. O que me atraiu de verdade foi o pós-venda.
Há duas semanas, a bagaça começou a dar problema. Todos os programas fechavam e imprimir passou a ser uma saga. É mais rápido escrever com uma caneta com bico de pena. Por dois dias tentei de tudo, até macumba.  E nada.
Resolvi ligar para a salvadora da pátria, a assistência técnica da Dell. Afinal estou pagando o serviço e nunca usei.
O drama começou. O atendente me avisa que posso perder todos os dados e me aconselhou a salvar tudo. Levei o notebook na minha viagem do final de semana e fiz o backup lá. Minha semana de trabalho foi tão alucinada que não tive sequer um segundo para respirar e muito menos para ligar para a Dell. Passaram-se quinze dias, consegui salvar tudo em um HD externo e, tomada por uma coragem hercúlea, telefonei para a assistência técnica.
O primeiro atendente me pediu para fazer um monte de procedimentos no computador. Por mais ignorante que eu seja no assunto, tem coisas que são impossíveis de engolir. O cara estava muito mais perdido que eu. Chegou uma hora que ele começou - desliga da tomada, liga, reinicia, hiberna, liga no botão, aperta o F8, aperta o F12, desliga, dá 3 pulinhos. Agora 2 pulinhos de costas, 6 polichinelos, 1 estrela, 2 cambalhotas e nadinha da silva. Já exaurido o ser vira e fala – A senhora precisa adquirir um CD com o sistema operacional do Windows 7. Eu respondo – Meu amigo, o computador veio com este sistema instalado, inclusive fazia parte do superpacote promocional da Dell.  Eu não tenho nenhum CD. O infeliz devolve – Não posso fazer nada. A senhora não conhece ninguém que tenha, um amigo, tio, primo, vizinho, porteiro do prédio, o dono da padaria. Eu falo – Como é que é?  Ele repete e depois sugere – Se não conhecer ninguém que tenha ou possa arranjar um, saia e compre. Eu digo – Mas se vocês venderam o notebook com o Sistema e eu paguei por ele, porque eu compraria? Ele grunhe – Não posso fazer nada. Entro na Internet e descubro que o tal CD custa apenas R$ 400,00. Dinheiro de pinga, certo? Recorro a Microsoft que deixa claro que a Dell é que tem que resolver o dilema e que eu não tenho que comprar sistema algum.  É dada a largada do jogo do empurra empurra.
Munida de uma paciência digna dos mais ferrenhos tibetanos ligo novamente para a assistência técnica da Dell. A última coisa que eles fazem é dar assistência. É um teste de resistência, isso sim.
Sou atendida por um rapaz megasimpático, educado e que se esforça ao máximo para resolver a encrenca. Depois de 2h30, nem ele aguenta mais e joga a toalha. Senhora, não tem mais jeito. Ele me orienta – A única solução é chamar um técnico ao vivo e em cores. Fiquei chateada por causa do tempo perdido, mas me conformei, faz parte do show. Pergunto: Quando ele vem?  Ele responde: Não sei, a senhora precisa marcar com ele. Eu volto: Mas com quem eu marco o dia e hora, você vai me passar para o setor de agendamento? Aí vem a pérola: A Dell não presta assistência técnica para problemas com softwares, só para hardwares. Já visivelmente alterada eu rosno – Caro colega, como assim? Eu vou lá saber se a software ou hardware? Só sei que software é o que a gente xinga e hardware é o que gente chuta. Eu contratei uma assistência técnica para solucionar o perrengue caso acontecesse. Ninguém me falou que este serviço não cobria isso ou cobria aquilo. Na hora da compra fui bem clara sobre isso e tenho inclusive a conversa gravada. Ele diz – Não posso fazer nada, a senhora me desculpe, mas são as normas da empresa. Realmente é uma falha na venda, eles deveriam informar.
Só faltou ele cantar: Ema, Ema, Ema, cada um com seu problema!
Isso me fez lembrar de um comercial antigo em que a mulher estava com o carro quebrado na oficina, sem entender nada do babado e mecânico fala – Vixi, dona, é grave. Deu pau na rebimboca da parafuseta.
Irritadíssima, descasquei todo o abacaxi para esta santa criatura. Então a Dell me vendeu gato por lebre? Eu sou usuária e quis ter a certeza de contar com uma assistência técnica caso fosse necessário. Eu vou lá saber se é software, hardware ou o raio que o parta. Tenha dó. E ainda tenho que achar um técnico de segurança que resolva o problema? Os usuários comuns como eu sabem quando o defeito está no programa ou na placa mãe?
O que é muito, mas muito pior mesmo, é que tudo vai ficar do jeitinho que está.  A Dell vende milhões de unidades por dia e não serei eu que farei a diferença no seu faturamento.
Agora tenho que encontrar um ser capaz, de confiança, para arrumar a rebimboca da parafuseta do meu notebook e morrer com esta grana apesar de já ter pago isso para o fabricante.

Marot Gandolfi

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