quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quebrando o gelo



Sou mestre em quebrar gelo, às vezes em enxugar gelo, afinal a raiz do meu crânio capilar é loira.
Esclarecendo, isso não tem nada a ver com o picador de gelo da Sharon Stone, bem que gostaria. Poderia ter seus olhos, rosto, sorriso, o corpo e o ex-marido. Quem não tem cão caça com gato, certo? Uso meu sorriso amarelo mesmo e bola pra frente que atrás vem gente.
Quando me vejo frente a frente com alguém ríspido e de mau humor tento mudar a vibe. Confesso que algumas vezes me dá uma vontade incontrolável não de quebrar o gelo e sim quebrar os dentes da criatura.
Lanço mão de alguns artifícios, mudo de assunto e dou o infalível sorriso maroto. Uma risadinha gostosa quase sempre transforma o astral da situação constrangedora.
Não pense que é uma risada frenética tipo bobo da corte. É uma simples questão de simpatia. As pessoas andam tão alucinadas, numa correria desenfreada, que nem olham para os lados ao andar pelas ruas, seja a pé, de ônibus ou de carro. É a lei feroz de cada um por si e Deus por todos.
A fórmula mágica é reagir com gentileza. Palavrinha poderosa. A gente desconcerta qualquer um que esteja pisando no tomate.
Passei por esta situação hoje, passo com mais frequência do que qualquer ser humano gostaria. Quando coloco a estratégia “sorriso em ação” o retorno é sempre positivo, com raríssimas exceções. Com estes encardidos de plantão não adianta nenhum esforço. Criaturas azedas. Se digo bom dia, a resposta é – Bom dia, por que? Se falo que o tempo está bonito, a amargura mor rosna – Detesto calor. Se esta frio, grunhe – Odeio inverno. Se eu comento que dia está ensolarado, o abutre resmunga – Mas cheio de nuvens, hoje vai cair uma tempestade. Não tem jeito é infeliz 24 horas nos 365 dias do ano. E ainda tem a coragem de dizer que não sabe o motivo de estar sempre sozinho sem uma viva alma ao seu lado.
Quando entro num lugar em que o ar está de cortar com faca, faço a respiração 4 x 4, é batata. Entro num relaxamento profundo sem precisar contar até 100. Dou um sorriso, puxo uma conversinha aqui outra ali e ofereço uma balinha. Tá certo que isso requer uma paciência de monge tibetano e estou há anos luz de ser a Madre Teresa de Calcutá, mas de certa forma o gelo derrete.
Se ainda assim um sorriso não surte nenhum efeito, no problem, tenho um lema. Ninguém vai decidir como eu devo agir ou reagir. Só eu tenho este poder. Um superpoder. Neste quesito sou a Mulher Maravilha, She-Ra, Mulher Biônica – pronto escancarei minha idade. Se o indivíduo é grosseiro, mal educado, amargo, ácido, áspero, antipático, tudo bem, beleza. Sigo em frente com o mesmo bom humor, às vezes até com uma alegria indígena. Como uma boa escorpiniana jamais passarei uma procuração para este ser cavernoso me contagiar.
A receita da alegria, gentileza e simpatia é supimpa. Não sei se faz bem para os outros, mas faz um bem danado para mim.

Marot Gandolfi

3 comentários:

  1. ótima! concordo e assino embaixo! Bjo, Marot!

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  2. Lilis querida, tenho certeza que você também é assim. Eu nunca, mas nunca mesmo, vi^você sem estar com um sorriso no rosto. bjs

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  3. Já estamos babando para comprar seu livro!!!! rs...
    O delicioso, Marot, é que quem te conhece consegue "te ouvir" lendo suas crônicas! Vc é DI-VI-NA!!!!
    Beijinhos (Mô e Beth)

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