Negócio da China

Vou mudar de ramo. Conversei com minha sócia e vamos vender nossa empresa de comunicações. Trabalhamos que nem camelas e o retorno é ínfimo quando comparado a outros segmentos da economia.
A área da saúde me surpreende todos os dias. Os hospitais e laboratórios pertencem a um grupo restrito de cinco ou seis empresas. Hospital virou empresa. Laboratório virou empresa. Saúde virou negócio.
Cresci ouvindo meu pai defender convênios médicos. Minha filha, você pode deixar de ter uma série de coisas na vida, menos assistência médica e seguro de carro. Ele era a pessoa mais precavida da face da terra.
Como certas coisas passam de pai para filho, confesso que faço questão de pagar um convênio médico e jamais dirijo um carro não segurado.
Existe algum comércio ou prestação de serviço que gere mais lucro do que um convênio médico? Pagamos a vida inteira e fazemos questão de não usar, certo? Quem quer fazer uma cirurgia de hérnia de disco? Oba, já que morro com uma grana todo mês, que tal fazer uma colonoscopia? É de graça. De graça até injeção na língua. Cara pálida, não é de graça, você paga todo mês e raramente usa.
É uma questão matemática. Estatisticamente, a maioria dos seres vivos vai precisar de serviços médicos quando estiver na 3º idade com raras exceções. Se você paga seu convênio dos 20 aos 60 anos usufruindo excepcionalmente, faça as contas de quanto estas empresas médicas faturam.
O mais surreal é que na fase em que mais é necessário, a partir dos 60, é quando eles mais glosam. Exigem uma série de relatórios, exames não sofisticados, é claro, perícias. Enquanto isso o indivíduo doente fica cada vez pior. Além da doença em si, passa um nervoso danado que só agrava seu estado.
Os médicos conveniados são insultados. É uma afronta pagar R$ 25,00 a consulta para uma pessoa que estudou oito anos, se matou de tanto fazer plantão, acabou com sua juventude para salvar vidas. Nem no McDonald´s dá para pagar um lanche por este valor, só se for a promoção do dia e olhe lá.
Não é à toa que os médicos formados há mais tempo e já com uma clientela fiel desistem de atender via convênio. Este valor ridículo não paga nem a folha do fax quando enviam os relatórios das consultas e procedimentos. Isso sem falar da quantidade de vezes que precisam mandar. Uma hora falta um número, outra hora falta uma letra ou uma vírgula. Tudo para empurrar com a barriga a quantia ridícula de reembolso para o doutor.
Se o infeliz precisa fazer um convênio depois dos 50 tem que se preparar. Vai precisar vender o almoço para pagar o jantar. Pode até colocar em leilão um de seus rins, talvez a própria assistência médica adquira o órgão, superfaturando obviamente, afinal tem gente pagando em ouro para ocupar o primeiro lugar na fila do transplante.
O negócio da China agora é abrir um convênio médico. Não requer talentos na equipe, somente excelentes e persistentes cobradores – deveriam ser recrutados no SERASA, não exige respeito, ética, decência e o retorno do investimento é garantido.
Saúde é comércio. Doença é lucro.
Vambora moçada! Vamos faturar com a dor alheia. Endoscopia deve dar uma grana legal. Mamografia também. Ultrassom é baba. Raio X então nem se fala.


Marot Gandolfi