sexta-feira, 15 de abril de 2011

Fonte da juventude


Não dá para negar. Não é somente uma impressão minha. As quarentonas de hoje são elegantes, bonitas e mais jovens. Comparo a foto das minhas amigas com fotos da minha mãe e tias com a mesma idade, é diferença é gritante. Aos 30 anos eram senhoras assumidas, se vestiam como senhoras, se comportavam como senhoras, usavam cabelos que as envelheciam, roupas sóbrias, sapatos fechados.
Hoje a mulherada está ativa, vai pra lá, vai pra cá, trabalha fora, trabalha dentro. Se a cada tarefa tocassem um sino, o bairro estaria surdo. Mesmo não encontrando uma fração de segundo para se cuidar, vestem-se como uma pessoa normal, deixaram de lado seus twin-sets, tailleurs, colares e brincos de pérola e saias no meio da canela. Adoro pérolas, são sempre chiques. Prefiro usá-las para compor um look mais moderno com meu estilo, uma camisa branca básica, um jeans surrado e um belo par de sapatos altos. Não me importo com o que a moda dita. Se fica bem em mim, eu uso. Se não fica, nem por sonho. Está é uma das maiores vantagens dos 40, a gente perde o pudor e ganha confiaça.
A moda sempre ditou regras. Impôs ditadura. A mídia reforça este nazismo. As mulheres precisam ser esqueléticas, manequim 44 é um insulto, rugas nem nos mais aterrorizantes pesadelos.
Tá certo, qual mulher quer olhar no espelho e ver um lixo? Nenhuma em sã consciência. Mas o tempo é implacável, passa para todo mundo. É mais digno ser uma mulher bem cuidada aos 20 anos com aparência de 20 anos. A mesma coisa com 30, 40, 50, 60, 70, 80.
O que não dá para entender são as moçoilas que recorrem ao botox como uma fonte da juventude. Será que realmente acham que estão bem? O espelho não revela sua deformação? Mais do que uma mudança na expressão, olhos puxados como os asiáticos, elas perdem o principal, a identidade que seu bem mais valioso. Eu vejo uma série de robôs em escala industrial. Não vem nem ao caso se os lábios parecem beiços, se as maçãs do rosto saltam aos olhos e dá pra se ver a um quilômetro de distância, se mesmo num velório parecem estar sorrindo de tão esticadas. O que elas reconhecem ao se olhar no espelho? Transformaram-se em outras pessoas.
Uma ruga na testa faz parte da minha história. Por mais que eu quisesse que ela desaparecesse em um passe de mágica, eu sei que ela está lá. Posso enganar quem eu quiser menos a mim mesma.
Fui a uma esteticista que insistiu para eu fazer um clareamento de pele no corpo. Explicou todo o processo, seriam algumas sessões, cremes, filtro solar fator 60. Eu só fui lá para fazer uma massagem. Depois que ela secou a garganta e gastou todas suas salivas tentando me convencer, fui até o espelho, olhei bem e gostei do que vi. Cada sarda, e são muitas, é uma lembrança de uma praia que fui. Cada pinta é um dia de sol que fiquei como um lagarto esticado lendo um bom livro. Não quero perder nenhuma destas recordações. Gosto das minhas pintinhas, sardinhas, manchinhas e não abro mão do sol em hipótese alguma.
Resolvi marcar uma consulta com uma dermatologista por causa de uma alergia. A médica era uma moça bonita era impossível identificar sua idade. Estava meio que plastificada. Pensei que era excesso de maquiagem. Não conseguia prestar a atenção em uma só palavra. Fixei os olhos para descobrir o que estava estranho. Conversamos muito e ela tentou exaustivamente me convencer a aplicar botox. Lá pelas tantas, não aguentei e perguntei – Quantos anos você tem? Ela sorriu e disse toda pomposa: 33. Não, eu não estava auscultando seu pulmão, ela tem 33 anos. Quase cai da cadeira e ela deve ter percebido meu espanto, porque comentou que eu tinha uma ruga profunda entre os olhos. Claro! Eu imaginei que ela tivesse 40 anos e estivesse bem conservada.
Na mesma semana recebo a ligação de uma superamiga contentíssima para me contar que tinha aplicado o raio do botox. Se tem alguém que não precisa usar artifícios deste gênero é esta criatura. Linda, inteligente, elegante e completamente insana. Eu estava dirigindo e quase bati o carro. Como assim sua louca? Você lá precisa disso? Ela responde: Nem dá para perceber. Eu falo: Então por que você fez criatura? Ela diz: Para ficar com um ar mais descansado. Eu solto: Pelo amor de Deus, vá dormir, viaje no final de semana para o campo, ande descalça na grama. Encontrei com ela e nem lembrei do ocorrido, ainda bem, sinal de que ela não mudou aquilo que já não precisava ser mudado. A demente me liga depois só para cutucar: Viu como nem dá para notar? Você nem percebeu. Vou fazer de novo. Mais um bastião caiu.
Ser jovem é sentir-se jovem. É aceitar-se com todas as imperfeições. É dar de ombros para quem olha torto. É se sentir bem com a idade que tem. É também se cuidar. É ser feliz acima de tudo e não colocar todos os ovos numa única cesta. Dane-se se eu não tiver a pele de pêssego, se não usar manequim 38, se a lei da física já está atuando. Faz parte do show e ele é maravilhoso. O sinal evidente de que vivi intensamente.


Marot Gandolfi

2 comentários:

  1. Te conheci quando vc tinha 17. Acho q foi lá q vc decidiu "viver intensamente". Não precisava exagerar. Vc sempre teve medo de ficar velha. Pra disfarçar, vc cria blog, twitter, facebook etc. Não adianta disfarçar. O tempo passou e vc já é uma coroa. Bem interessante, aliás. Sorte do Helinho. Mas o pior é essa sua cabeça. Que insiste em fazer vc se sentir uma "mulher dos tempos modernos". Vc já era moderna demais com 17. Faz um favor, escreve alguma coisa sobre um ser q odeia modernidades. Acho q vc sabe sobre quem estou falando. Ah, vc tá escrvendo bem demais. Lança logo o livro. Serei o primeiro da fila na noite de autógrafos. Bj. Neto.

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