Há um ano, no meio de uma crise existencial, participei de um curso de baralho pessoal. Mais uma das milhões de buscas frenéticas para entender o que eu estava passando.
Lá no fundo, bem no fundo mesmo, eu queria saber se eu tinha algum poder de prever o futuro como a Mãe Diná. Quem sabe assim conseguiria escapar de roubadas e pular as dores inevitáveis da vida.
Apesar de parecer magia, não é. Descobri a duras penas que não há receita de bolo para isso, um desvio para encurtar o percurso, pular etapas, ledo engano.
Tentei pelo caminho que eu acreditei ser um mais fácil e indolor. Doce ilusão.
Não há outra saída. Só vivendo e aprendendo. Às vezes, nem vivendo se aprende.
Frequentei religiosamente as aulas por três meses. Toda quarta-feira era sagrada. Sol ou chuva, eu estava lá. A ansiedade era tanta que sempre fui a primeira a chegar com uma maçã nas mãos para a professora e o uniforme engomadinho.
No baralho pessoal as cartas são individuais. Você decide qual é sua carta da felicidade, morte, amor, amizade, sucesso, transformação, traição entre tantas outras. Para criar o baralho é preciso separar fotos, desenhar, ilustrar aquilo que realmente representa para mim. Tirando o fato de que não consigo nem desenhar uma casinha, mexer em fotos e recordar as lembranças nos faz remoer o passado que me cortou como uma navalha afiada.
O baralho só seu tem uma razão. Ao dirigir o olhar para as cartas imediatamente entende-se o significado, diferente para cada pessoa. O que é felicidade para mim, não é para o outro. O que é morte para mim, não é para o outro.
A parte mais árdua de todo o curso foi justamente procurar dentro das minhas referências o símbolo para cada sentimento. Lembrei-me de situações há muito adormecidas. Ingênua, acreditei estarem falecidas e enterradas há séculos. Estão mais vivas do que nunca, saltando, gritando aos brados dentro de mim.
Como é fácil se enganar. Como temos um talento nato para ludibriar a nós mesmos. Criar verdades absolutas que nos fazem conviver com aquilo que é impossível, com o que nos destrói e anula.
Foi uma terapia. Fiz descobertas impressionantes.
Passei mais de um mês tentando recordar de um momento de lucidez. Há uma carta só para isso. Foi uma saga, não sei o que é ser lúcida. Confundi sentimentos. Lúcida é ouvir mais a razão do que a emoção? Isso não seria abrir mão de ser feliz? Pensei tanto que chegou a doer. Matutei a ponto dos meus poucos neurônios terem a Síndrome do Vaso Vagal e desmaiarem. Até que tive um insight e percebi que eu fui extremamente lúcida na morte da minha mãe. Nunca havia sacado isso.
Não consegui desenvolver a técnica de prever o que está prestes a acontecer. Nem comigo nem com ninguém. Incompetência ou falta de esforço. Não evitei as dores e infortúnios da vida. Não abreviei nenhum sofrimento.
O que eu ganhei? Me conheci melhor, revelei para mim mesma sentimentos que eu desconhecia, descortinei verdades e mentiras escondidas.
O resultado foi positivo. Desvendei talentos e fraquezas. Alegrias e arrependimentos.Um aprendizado e tanto.
Marot Gandolfi
Nenhum comentário:
Postar um comentário