sexta-feira, 11 de março de 2011

Eu não nasci de óculos

Peço permissão para usar a frase de uma das músicas do começo da banda Paralamas do Sucesso por ser a que melhor se encaixa no tema.
Aos 12 anos, eu achava lindo usar óculos na sala de aula. As garotas mais populares ostentavam as mais belas armações. Passei a fingir que não enxergava para minha mãe me levar ao oftalmologista. Menti para ele também.
Ganhei os óculos que tanto sonhei. Tive dores de cabeça homéricas. Não tinha miopia alguma e usava lentes com 1 grau.
Até hoje não sei se foi herança genética ou pura imbecilidade em querer usar óculos sem a menor necessidade, desenvolvi miopia e astigmatismo.
Aos 29 anos me submeti à cirurgia tenebrosa para corrigir a dupla deficiência visual, pena que não existe um procedimento para corrigir o cérebro e ideias de jerico. Na época das zagaias, esta cirurgia era feita com bisturi de diamante. O médico sádico e sanguinário cortou minha córnea como uma laranja, eu senti cada uma das fatias. O cheiro era de churrasco torrado. Tudo valia o sofrimento. Não conseguia usar lentes de contato e definitivamente eu não havia nascido de óculos.
Um ano depois engravidei. A surpresa foi muito maior do que saber que estava gerando um novo ser. A miopia e o astigmatismo voltaram no 5º mês de gestação. Impacto triplo.
Eu continuo driblando o uso dos óculos. O problema é enxergar de longe. Passo por antipática e pedante na rua, não reconheço as pessoas. Quando vou a um casamento, confundo o padre com a noiva. Talvez por isso sempre ache o modelito dela um tanto quanto sem graça.
Ainda não uso óculos para perto. Ouvi dizer que isso acontece do dia para a noite. Você dorme linda e loira e na manhã seguinte acorda sem enxergar a hora no relógio, o rosto no espelho e nem o café que vai tomar, olhe o perigo. Quero aproveitar cada segundo desta temporada final. A ampulheta virou e cai um grão de areia todo santo dia.
Se foi influência eu não sei, mas minha filha que tem 4 graus de miopia e 4 graus de astigmatismo recusa-se a usar óculos. Com muita negociação, aceita colocá-los em sala de aula. Aprendeu a enxergar mal e se conforma. Digo para a insana criatura mirim – Como você consegue? Na balada, perigas de você ficar com o mesmo garoto porque não o reconhece, sua demente? Numa das baladinhas, um tal Colírio da Capricho pediu para ficar com a mocreia. Ela não percebeu quem era o ser e disse Não – por que será? As amigas quase lincharam a amostra grátis de perua.
Eu a entendo. Nós não nascemos de óculos, nós não éramos assim.
Marot Gandolfi










3 comentários:

  1. Maria do Rosário olha eu posso te ajudar um pouco...O Padre é aquele de preto e a noiva normalmente está de Branco, algumas vão com outra corzinha mas sempre em tons pastel, espero ter te ajudado. Eu tbm uso óculos e qdo não estou com eles peço ajuda ao meu filho para ler a conta do restaurante por exemplo. Um Grande Abraço.

    Mário Martins (O sobrevivente da 1001)

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  2. Prefiro nao ler a conta do restaurante. Deixe que o acompanhante desembolse....rsrs.
    Dúvida: por que ela vai de branco se faz muito tempo que já deixou de ser mocinha ingenua e virgem?
    Por que nao vai de preto como o padre já que está indo para forca?
    Nem isso minha filha pode ser para mim, a bengala...é tao cega quanto eu...Miss Mago.

    Beijos
    Maria do Rosario (a sobrevivente 2 da 1001 - A Missão)

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  3. Marot,

    Elas vão ainda de branco por causa da tradição, somente por causa disso por que de resto tá tudo perdido a muito tempo.
    O preto fica com o noivo é ele que tá indo prá forca. Paga muito por pouca diversão.
    Quanto a ajuda da sua filha é bom as duas começarem a lerem em braille...Rs

    Beijos
    Mário Martins (O sobrevivente da 1001 - I want to forget)

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