Tenho uma teoria. Todos os homens e mulheres devem morar sozinhos antes de decidirem se casar. O índice de divórcios cairia pela metade.
Depois de no mínimo um ano vivendo em suas próprias casas, podem morar juntos por no mínimo um ano. Se vencerem esta prova de resistência, podem selar a união oficialmente.
Morar na casa dos pais é uma mamata. Todos os filhos acreditam em fadas. A fada da louça suja, a fada da roupa limpa, passada, cheirosa e guardada, a fada do lixo do banheiro, a fada da geladeira, a fada do almoço, do jantar, do lanchinho, da cama arrumada. Mas tudo tem uma salvação, eles já acreditam no micro-ondas. Panela? Para que serve? Se acaba a energia elétrica, morrem de fome.
Quando o ser ingênuo começa a ganhar melhor decide morar sozinho. Afinal, é independente e a casa dos pais é um porre, uma epístola com regras. Depois de apenas duas semanas começa a cair na real, raros dão o braço a torcer.
Quando as camisas não aparecem limpas no armário, a coisa muda de figura. Se não passar no supermercado, não tem acordo, não há comida. A louça, se não for lavada fatalmente chegará uma hora que não haverá um coitado de um copo e um prato que possa ser usado, sem falar nos possíveis insetos asquerosos que farão a travessia olímpica na pia. A grana fica muito mais curta, os boletos implacáveis chegam todos os dias – condomínio? O que é isso? Meus pais pagavam isso? Que desaforo. Luz? Paga-se luz? O governo não fornece? Gás? No micro-ondas precisa de gás?
Isso deveria ser ensinado na Faculdade, na Pós e MBA. Matéria obrigatória. Se passados doze meses, a criatura ainda não adquiriu Salmonela, já pode arriscar-se a morar com o companheiro.
A jornada não será nada fácil.
No primeiro mês tudo é novidade.
No segundo mês tem início o perrengue, inofensivo por enquanto, mas sacal.
A faxineira falta. A roupa de uma semana está no cesto para lavar olhando fixamente para os dois pombinhos. Tudo bem, o amor é lindo. Um deles assume a dianteira e enfrenta o bicho papão da máquina de lavar roupa. Quem passará as vestimentas? Um dos dois.
Terceiro mês, o amor não está tão magnífico assim. Ninguém passou no mercado, ainda há um pacote de miojo e um ovo cozido para cada um.
Quarto mês, a praga da faxineira não vem há três semanas, greve de ônibus. O lençol não é trocado há um mês. O cheiro infesta o minúsculo apartamento. Um dos dois resolve acabar com a situação. Lava o dito cujo, na máquina, mas coloca tanto sabão em pó que as bolhas explodem pela tampa, inundando a área de serviço e cozinha, o que não é de todo ruim, o chão não via um pano há uma eternidade.
Quinto mês, reunião com os amigos. Bebidas, petiscos, pizza e uma pilha do tamanho do Everest na pia. Alguém tem que assumir o comando. Por que foram convidar tanta gente, era melhor ter ido para um boteco.
Sexto mês. Roupa passada para que? Tiram da máquina direto para o corpinho. Lançam uma nova moda.
Sétimo mês. O infeliz joga todo dia a toalha de banho molhada no chão. A mimada assume a pia – duas escovas de cabelo, um mousse, um creme para o dia, um creme para a noite, lápis, rímel, batom, pó, blush, secador, chapinha, pente para sobrancelhas. O pobre coitado não consegue uma escovinha de dente. Desiste de escovar, só bochecha com Plax.
Tudo isso sem falar no cano do banheiro que estourou, o registro da descarga espanou, a lâmpada do quarto está com curto, a chuva alagou a sala, um dos dois deixou a janela aberta, normalmente o mimoso.
Passados este período de convivência básica, se o casal ainda consegue olhar um para o outro sem rosnar, podem juntar os trapinhos, no sentido literal da palavra, pois só isso terá restado desta harmoniosa vida em conjunto.
Marot Gandolfi
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