terça-feira, 15 de março de 2011

Sacografia

Hei de descobrir um dos maiores mistérios no quesito saúde feminina. Por que ainda não inventaram um exame menos apavorante que a mamografia? O povo ainda tem a coragem de classificá-lo como não invasivo.
A medicina é tão avançada. Doenças são descobertas prematuramente através de exames supersofisticados. O Pet Scan faz um mapa minucioso do corpo inteiro identificando qualquer microimagem. Jesus, como até agora nada substitui a mamografia? Aí tem.
Confesso que sou desleixada, só corro atrás de um médico quando a água bate no nariz. A única coisa que não abro mão é ir à gineco todo mês de fevereiro e fazer os exames de controle. Ela é quem me faz lembrar que o Carnaval está chegando. Muito mais do que as intermináveis chamadas da Globeleza. Sofro por antecipação. Pesadelos com 3 meses de antecedência. Risco os dias do calendário como se estivesse na cela de uma prisão contando os dias para minha liberdade, neste caso ao contrário, quanto falta para minha agonia.
Entra ano e sai ano é o mesmo drama. Já fiz em todos os laboratórios possíveis e imagináveis, numa busca implacável por um lugar que seja menos traumático para fazer o raio da exame. Ainda não encontrei.
Sam Shapiro, Strax Philip e Venet Louis criaram a mamografia em 1966. Há 45 anos estes infelizes vem se comprazendo com a tortura feminina. Tinha certeza que eram homens. Os mais sádicos da espécie. Devem ter sido abandonados por quarentonas e como vingança definiram que a partir dos 40 as donzelas em decadência tem que sofrer.
Uma outra possibilidade que não deve ser descartada é uma revolta insaciável gerada após o exame de próstata. Quiseram dar o troco. Injustamente, o exame de toque não chega nem perto do sofrimento mamário.
Nesta encarnação não será mais possível, na próxima serei pesquisadora, médica, cientista ou seja lá o que for. Inventarei com requintes de detalhes o exame mais fiel para detectar câncer de próstata – a Sacografia. O indivíduo também terá que fazer uma vez ao ano. Garanto que a cada 12 meses será uma experiência memorável.
O mocinho chegará ao laboratório e terá que colocar o dito cujo num equipamento diabólico em formato do salto Luiz XV. O treco vai baixando no seu membro até esmagá-lo completamente. Quando estiver com a espessura de uma folha de papel sulfite, após 30 segundos, a enfermeira fala secamente – Pare de respirar. Ele grita - Como? Eu não estou respirando há uma eternidade, minha filha. Ela diz já sem paciência alguma - Só mais um pouco. O saltinho básico Luiz XV é comprimido mais um pouco e o bonitinho já está fino como um fio de cabelo. Ufa, chegou ao fim. Que nada. A enfermeira retorna ao recinto com os olhos vibrando de emoção– Ainda não ficou bom. Vamos repetir algumas imagens. Agora coloca um salto plataforma em cima do ser já encolhido de tanto pavor e aperta mais um pouquinho.
A vingança será maligna!
Fiz minha 5ª mamografia da vida. Conto todas, experiências únicas. Hoje foi diferente, a enfermeira foi gentil, conversou sobre os assuntos mais diversos e sua simpatia transformou o sofrimento angustiante em algo mais suportável. Prefiro assim dor com gentileza.
Marot Gandolfi










5 comentários:

  1. ahahahahha.... adoro! delicia de ler!
    Só não gosto de lembrar das minhas experiencias...
    Lilis

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  2. Lilis, este mexe com meus instintos mais primitivos.
    Aproveite para ler minhas cronicas nesta vida. Na proxima ja negociei o que vou fazer e nao sera escrever rsrsrs

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  3. Muito bom, a Cris sempre reclama desse exame. Deixa a sacografia de fora por favor rsrsrssr

    Ricardo

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  4. Fantástico.... Vc conseguiu exteriorizar o sofrimento de todas nós quarentonas....

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  5. Cris, executiva do seu porte na proxima encarnação você virá superinteligente. Voce cria e eu divulgo a sacografia, beleza?

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