O cara que pega

A moda das festas de 15 anos voltou com a corda toda. Não há um só final de semana que minha filha vá ao menos a uma festança. Festança, sim. Nem os casamentos mais sofisticados chegam aos pés destas baladas adolescentes.
Confesso que não sei se a debutante tem tanto sonho em festejar sua puberdade. Pelo nível de sofisticação são mais os pais que desejam uma comemoração digna de reis e rainhas.
As últimas festinhas foram no Jockey, Leopoldo, Rosa Rosarum e Trio. Um megaprodução.
A epopeia começa com o “save the date”. Um aviso para bloquear a data na vida social de um ser de 14 anos. Concordo, a vida dela é muito mais agitada e divertida que a minha. Depois vem a entrega do convite, por um courier. Absolutamente fantásticos. Feitos sob medida com um requinte impecável, dobraduras e cortes especiais, são de tirar o fôlego. Chique no úrtimo.
A etapa do convite ainda não terminou. Tem início a saga do “indispensável”. É um vale empada que vem com o convite (é obrigatória a apresentação na entrada da festa). Começa uma corrida maluca, sem o Dick Vigarista, mas com muitas Penélopes Charmosas. O lance é convidar o maior número de garotos e garotas, de preferência os populares de todas as escolas, para garantir que o evento fique lotado e não seja um mico. Imprimem mais “indispensáveis” que o próprio convite. Uma convidada, às vezes, descola 15 “indispensáveis”. Precisa mudar o nome disso. Qualquer mané desconhecido com um desses nas mãos virá um “indispensável”.
Agora existe a máfia do “indispensável”. Descobriram que podem fazer cópias do dito cujo e a festa prevista para 300 meliantes tem que acomodar 500. Com razão os pais surtam.
Para evitar tal acinte, o “indispensável” começou a receber o acabamento sofisticado do convite. Isso poderia simplesmente ser resolvido com uma lista de presença no raio da porta da festa, Jesus!
É expressamente proibido o consumo de bebida alcoólica. É hilariante esta frase. Ninguém respeita, nem os pais, nem os bêbados mirins. Por precaução, os adolescentes cheios de ideias levam suas próprias garrafinhas de vodca, vá que os pais sejam sensatos e não tenham contratado open bar.
Vestido nem por sonho pode ser repetido. Como os pais normais se recusam a comprar um a cada festa, elas bolaram uma estratégia bem eficaz. Trocam os vestidos entre elas. Todas. Descobri que a minha filha ainda não usou dois dos vestidos que comprei. Mas suas amigas já usaram. O mesmo acontece com os sapatos e acessórios.
A festa começa. Banda, DJ, decoração, buffet Charlô ou Neca Menna Barreto, lembranças. Ontem meu marido, como sempre, foi buscar a adolescente rebelde sem causa, às 4h da matina – desistiu até de colocar pijama. O requinte foi tanto que ao estacionar na frente do local recebeu do manobrista uma recordação – uma garrafinha de água mineral azul linda de morrer e um bombom numa embalagem fofíssima. Acompanhados por um cartãozinho que agradecia a paciência e boa vontade dos pais em sair da cama àquela hora da madrugada para buscar a galera que foi prestigiar a festa, assinado pela aniversariante e sua família. Ele nem resmungou de sair para buscá-la. Voltou falando alegremente sobre isso e mostrando para todo mundo. Chique, um mimo. O cúmulo da gentileza.
Conversando no dia seguinte com as meninas sobre a festa, falei sobre a delicadeza da lembrança para quem foi buscar os convidados. A amostra grátis de perua vira e fala – Legal dar um negócio para o cara que pega! O cara que pega? Minha filha, o cara que pega é o seu pai, não é o Jarbas.
Pensando bem, ele até que foi promovido. Agora, além de ser o cara que paga é o cara que pega também.
Marot Gandolfi