quinta-feira, 3 de março de 2011

Abnegados de nascença

O que leva um ser, em sã consciência e gozando de razão, a assumir o cargo de síndico ou a presidência de uma Associação (não ONG) sem fins lucrativos?
Abnegação ou masoquismo? Idealismo ou birra?
O síndico só ganha enxaqueca que nem quarto escuro, dose cavalar de Sumax 100mg e silêncio cavernoso conseguem resolver.
Administrar uma equipe nada comprometida. Até aí, nenhuma novidade, o que menos encontramos hoje é comprometimento. Mas neste setor, a situação é muito mais tenebrosa.
A ala a favor dá um monte de pitaco. Colocar a mão na massa que é bom, nada.
A ala da esquerda festiva só causa. Discorda de tudo, duvida dos orçamentos, boicota o pagamento da taxa do condomínio, reclama porque se faz, reclama porque não se faz. São os descontentes de plantão. Os vândalos continuam a detonar elevador, estragar plantas, fazer xixi na piscina, destruir o salão de festas. Os pais continuam a defender os meliantes mirins. O cara que toca bateria às 2h da madrugada, nem atende ao interfone, quanto mais à campainha. Também no volume que a criatura martela o instrumento está surdo como uma porta há muito tempo. Tive um vizinho, no apartamento de cima, que resolveu aprender a tocar sax. Eu amo sax, mas aquilo era tortura. Durante um ano, o indivíduo ensaiou Carinhoso, todas às noites das 20h às 23h. O Pixinguinha se revirou no túmulo por 365 dias. O infeliz tocava mal para caraca! Eu, às 23h01, pegava uma vassoura e batia no teto. O dito cujo parava. Tínhamos um código. Há 5 anos, ele mudou. Nunca mais ouvi Carinhoso, fiquei traumatizada.
O telefone do síndico toca mais que o SAC da Telefônica, Tim, Claro, Vivo, TVA. A diferença está apenas no atendimento que não é restrito ao horário comercial. É uma franquia da BRMania dos postos BR, dia e noite.
Para colaborar com o trabalho insano, estão estudando uma lei proibindo que a taxa de condomínio seja isenta para quem assumir o cargo de síndico. Um incentivo e tanto, né não?
O perrengue não é diferente para quem aceita ou é coagido a aceitar o cargo de presidente de alguma Associação sem fins lucrativos. Não uma ONG movida por uma questão maior. Uma Associação é composta por empresários com o objetivo de unir a classe e profissionalizar cada vez mais o segmento em que atua. Lindo! Na prática nem sempre o enredo se desenrola como o idealizado.
Há sempre a saga para escolher quem será a bola da vez na presidência. O ser que aceita esta difícil tarefa precisa multiplicar as horas do seu dia. Deve continuar tocando seu negócio, afinal os boletos são implacáveis e chegam a rodo todos os dias, não falham nunca, os miseráveis. Vida particular pode esquecer. O que é vida particular mesmo?
Assim como o síndico, o presidente enfrenta a ala a favor e a contra. Os que duvidam dos gastos, os que dão palpite e nem sabem o que está acontecendo, os que dão ideias e depois caem fora.
O que motiva estas criaturas a aceitarem esta incumbência de doidos? Incógnita, mas suspeito que não comeram verduras e legumes quando crianças.
Eu admiro a responsabilidade e o empenho destes abnegados. São cada vez mais raros.
Marot Gandolfi
















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