terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A ânsia da quarentona

Dizem que podemos morrer se fizermos três coisas – ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro.
Surtei. Já tive dois filhos, plantei um monte de árvores, a de lichia ficou abarrotada neste final de ano e agora encasquetei que vou publicar um livro de crônicas.
Confesso que estou com um certo pavor congelante. Se eu terminar esta coletânea, significa que vou embarcar para o além-túmulo? 
Minha mente está bombando com tantos planos e projetos. Talvez seja crise de meia idade e eu queira recuperar o tempo perdido, afinal estou no segundo tiro da vida. Só tenho mais 45 anos pela frente.
Quero ler centenas de livros e faltam horas no meu dia. Quero fazer mais duas tatuagens pequenas, dá azar ter número par. Quero conhecer o mundo inteiro. Vou começar aula de canto para montar uma banda. Quero ter netos, milhões deles.Dizem que ser avó é ser mãe com açúcar. Eu terei glicemia altíssima quando tiver um netinho, alto risco de ficar diabética. Quero aprender a cozinhar decentemente. Longe de mim querer ser uma chef, conheço bem meus limites, mas fazer comidinha da vovó vai ser tudo de bom. Quero sair pra dançar que faz um bem danado para minha alma e que só pratico em casamentos, cada vez mais raros. Quero atuar mais em causas sociais. ONGs não faltam. Falta gente com disposição.Quero ver mais meus amigos queridos. O tempo é implacável. Já perdi muitos anos sem desfrutar da companhia destes companheiros que são pau para toda obra. Quero fazer mais amigos, conhecer mais pessoas do bem, as do mal eu ignoro. Quero fazer mais atividade física. Isto é uma questão politicamente correta, é provável que fique mais no desejo, exercício não é muito a minha praia. Para ir à aula de Pilates, duas vezes por semana, preciso fazer um esforço hercúleo.
Em meio a tudo isso, tenho que trabalhar, os boletos insistem em chegar aos baldes todos os dias.
Quero muita coisa e tenho tão pouco tempo. Faltam horas no meu dia. Mas é isso exatamente o que me move, o que me faz acordar todo dia animada.
Será que é devaneio ou ânsia de viver? Uma coisa eu sei, não vou colocar a letra do Epitáfio dos Titãs na minha lápide.


Marot Gandolfi

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