segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Conto da vigária

Sempre há alguém suficientemente ingênuo para cair numa artimanha barata. Nada tão sofisticado quanto às artimanhas de Leonardo Di Caprio em “Prenda-me se for capaz”, um mestre no golpe. Para nós tupiniquins e gente do bem, nem precisa ser tão ardiloso, caímos em qualquer golpe mesmo.
Estava parada num restaurante de estrada quando o alarme do carro disparou. Sai e desliguei o dito cujo. Parou ao meu lado uma Triton preta estalando de nova.
Duas mulheres dentro do bicho. Elas me chamaram, eu olhei para trás para ver se havia outra pessoa. Era comigo mesmo. Loira e tonta aproximei-me da janela do veículo. A mocinha desamparada que aparentava cerca de 50 anos contou com riqueza de detalhes a história triste da sua vida. O painel do seu carro indicava que era preciso trocar o óleo naquele instante. A infeliz parou no posto, digitou a senha errada três vezes seguidas e bloqueou o cartão. A singela criatura morava no interior e estava voltando de São Paulo, aonde participou de uma feira no Shopping Paulista. A proposta desonrosa da safada era para que eu emprestasse R$ 150,00. Ela me “venderia” dois travesseiros da NASA e me “daria” outros dois. Negócio da China, comprar dois travesseiros que eu não preciso e levar quatro que também não preciso.
Ela me pegou tão de surpresa que ao invés de responder um redondo não, expliquei que estava sem dinheiro e sem cartão. Ela determinada tentou me persuadir – Você não tem cheque?
A insana aparentemente desistiu e abordou outro ingênuo. Pelo que vi não caiu no conto da vigária. Saiu cantando pneu estrada a fora. O óleo teve uma espécie de geração espontânea.

Como uma boa loira, pensei no absurdo do golpe muito tempo depois:
- se ela não trocou o óleo no posto por que ela foi passar o cartão? Eu pago combustível, óleo, fluído de freio depois de abastecer a viatura.
- como um carro novo como aquele teria que ter o óleo trocado? Na pior das hipóteses, teria que completar o óleo, o que deve custar aproximadamente R$ 40,00.
- se estava sem óleo, como ela pega uma estrada, fritando os pneus?
Pairaram algumas dúvidas no meu cerebelo lento:
- se o carro dela é este, o lance de dar golpes do gênero deve dar uma fortuna. Vou repensar minha profissão.
- será que o carro era roubado?
- será que os travesseiros eram roubados?
- será que os travesseiros eram usados?
- quanto custa um travesseiro da NASA? E se eu tivesse comprado, teria feito um bom negócio?
Golpista agora tem que ter a maquininha CIELO, aceitar cartão de débito, crédito, espécie e cheque, só se for especial.
Ainda estou dormindo com meu lindo e velho travesseiro. Não tenho a menor ideia de onde comprei o gostosinho, mas me dou muito bem com ele.

Marot Gandolfi


Nenhum comentário:

Postar um comentário