Vivemos na era digital. Os equipamentos trazem tecnologias que nem sabemos usar, todos dotados de controle remoto, evitando o mínimo esforço e propiciando uma ode à preguiça.
Somos dependentes destas maquininhas. Precisamos ter controles universais para comandar a TV, DVD, TV a cabo, ar condicionado, som, garagem, portão, trava do carro, som do carro - nunca acionei um botão do som do meu carro pelo controle remoto, imagine eu dirigindo tendo que achar o raio do controle - surreal. Existem até banheira acionada à distância, janelas que abrem e fecham, fornos que ligam com uma simples apertada de botão. Em pouco tempo teremos o controle remoto para acionar o controle remoto.
Assisti pela 523º vez ao filme “Click” com o Adam Sandler. Um típico Sunday Movie que continua a me dar ideias pérfidas. Como seria ter um controle remoto para controlar sua vida? Eu poderia apertar o Rewind e reviver momentos que foram inesquecíveis. Sentir emoções únicas que nunca mais vivi. Voltar ao ponto que tomei uma decisão errada (seriam tantas paradas que acredito que eu não tenha tempo de vida para voltar em todos estes momentos). Estar novamente diante de situações que deveria ter dito sim, quando disse não. Ou ter dito não quando disse sim. Voltar para me desculpar e voltar para perdoar. Imagine colocar no pause. Situações que eu não queria que acabassem nunca. Um momento de êxtase eterno. Situações que eu queria que nunca tivessem avançado e tomado outro rumo, parar no exato instante em que não tenho que decidir nada. A tecla que eu mais acionaria seria o Fast Foward. Aquele momento em que a gente se depara com uma criatura deplorável que só fala besteira, inconveniente, desagradável, uma mala sem alça. Num piscar de olhos, ou melhor, num piscar de cliques, o ser magicamente some, desaparece, evapora. Aquele dia que temos que fazer um exame médico que dá frio na espinha, um tratamento de canal. O trânsito congestionado. A estrada para a praia lotada, a fila para comprar ingresso, o Pilates que tenho que fazer duas vezes por semana e não tenho muita paciência. Não viverei tempo suficiente para poder experimentar este néctar dos deuses, quem sabe meus netos usufruam desta 8a maravilha.
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