sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Promessa árdua

Deveríamos escolher o próprio nome. Sou o exemplo vivo disso. Meu nome é fruto de uma promessa. A mãe que fez uma promessa para a filha cumprir. Sou o único ser que paga por ter nascido saudável.
Depois de muitos perrengues, minha irmã que estudava num colégio de freiras, chegou em casa com duas imagens – uma de Santa Paula e a outra de Nossa Senhora do Rosário. Meu destino começou a ser traçado ali. Por que esta freira (quase entendo porque decidiu por esta vida de clausura) não mandou só a estatuazinha da Santa Paula? Imagine Paula Gandolfi. Tanto é chique e forte que minha prima batizou a filha dela com este nome.
Voltando ao pagamento de minha promessa. Minha mãe escolheu Maria do Rosário, com minha sorte já era de se esperar.
Nem meus pais, os responsáveis por este ato insano, me chamavam por este nome. Só falavam o nome inteiro quando a coisa estava negra. Nestas ocasiões eu fugia como o diabo foge da cruz.
E a quantidade de apelidos gerados?  Rosa, Rô, Rosarinho. É o Ó do penacho.
Quando adolescente eu queria me chamar Renata, Paula, Fernanda, Roberta, Adriana, nomes normais. Carreguei este fardo vida a fora. Sem falar que não tem nada a ver comigo – Maria do Rosário parece nome de santa, coisa que definitivamente nunca fui.
Aos 20 anos decidi mudar isso. Já estava assinando matérias como jornalista e não dava para me lançar como Maria do Rosário. Era colocar um fim numa carreira que nem tinha começado.
Criei MAROT – MA do Maria, RO do Rosário e T do Teixeira. Bingo! Marot Gandolfi. Criativo, imponente, diferente. Melhor que Maria do Rosário.
Desde então o mundo me conhece por Marot. O mundo pós 20 anos, porque as amizades que fiz antes disso e que estão absolutamente preservadas até hoje, se recusam a me chamar pelo pseudônimo e acabam com minha existência todas as vezes que eu as encontro. Afinal quando detestamos algo, os amigos da onça se aproveitam. Eu também sou assim.
Na primeira prova da faculdade um ser alucinado sentou-se atrás de mim. No meio do exame, a criatura tirou da mochila um daqueles terços de madeira que ficam pendurados em cima das camas, muito comum antigamente. O infeliz começou a falar baixinho e aumentando gradativamente o volume – Ah! Rosário me ajude pelo amor de Deus. A classe veio abaixo, incluindo o professor.
No meu baile de formatura para evitar qualquer devaneio dos amigos presentes, esclareci ao orador que ele deveria me chamar por Maria e não citar o do Rosário. O débil mental na hora de falar meu nome diz -  Maria do R. Gandolfi. MARIA DO R! O que eu queria evitar se transformou em um verdadeiro frenesi. Meus amigos subiram na mesa e esbravejavam como maníacos – MARIA DO ROSÁRIO, MARIA DO ROSÁRIO, o nome dela é MARIA DO ROSARIO. Naquele instante desejei a morte pela primeira vez.
Aos 40 anos identifiquei que sou uma anta com A maiúsculo. Existe nome mais bonito que Maria? Um nome forte que existe em todas as línguas, fácil de escrever, fácil de entender, nem precisa soletrar. Maria Gandolfi, chique, poderoso. O mais surreal, eu me chamo Maria, no meu RG tem Maria, na minha certidão de nascimento tem Maria, no meu CPF tem Maria, na minha habilitação tem Maria, no meu título de eleitor tem Maria. Eu nem precisaria me esforçar.
Pareço uma criatura fugitiva da lei com tantas alcunhas.
 Maria, Marot, Maria do Rosário, Rô, Rosa, Rosarinho, não importa. O que conta mesmo é ser feliz.

 Marot Gandolfi

4 comentários:

  1. fenomenal!!!! Caio sempre na gargalhada quando leio seus textos!!! Beijos

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  2. A vantagem de quem te chama de Rosário é que te conhece há mais tempo !!!
    Texto sensacional !!! Depois de rir muuuiiittooo, vai demorar pra eu dormir !!!
    Bjs
    Ricardo

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  3. Vc tem o Rosário e eu tenho o José (Mário José) e por ai vai temos algo que não queríamos, talvez por moda, costume,achamos o nome de batismo feio mas agradeço a Deus por ter saúde e humor para tirar isso de letra e a sorte não ter o nome como Zilomar, Wesley, Wendiul, Maicon Jequeson etc Ufa ainda bem...

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  4. Quando o Marcus falava da Rosario eu imaginava uma criatura timida, saia na canela, cabelos presos num rabo de cavalo , talvez daquelas que enfeitam o altar antes da missa e , claro, muito timida....eis q te conheci e UAU !!!E acho q muita gente q ouviu seu nome antes de conhece-la deve ter sentido esse mesmo UAU pq, vamos combinar q a sra. sempre jogou um bolão hem?beijocas Malu

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