Calma. É a palavra que a adolescente que eu expeli no mundo mais fala. Não é exclusivo só da sua pessoa, mas da maioria das criaturas desta faixa etária desesperadora.
Não há uma só coisa que esta jovem com a cabeça nas nuvens faça na hora em que é solicitado. Tudo é para depois. A frase mais proferida é: Daqui a pouco eu vou. Daqui a pouco eu faço.
E o pior, não faz.
Escove os dentes antes de dormir (todos os pais falam isso todas as noites, já virou a saudação noturna antes conhecida como Boa noite! Durma com os anjos!). O ser languido está deitado, ainda vestido com o uniforme, já em fase adiantada de sono, muitas vezes já babando e ainda resmunga: To indo. E, claro, não vai.
Hoje ela estava com a língua verde musgo. Perguntei, você nao escoveu os dentes, porca? Não respondeu nem que sim, nem que não. Apenas deu um sorriso amarelo (de tártaro).
Ontem à noite rolou um baita stress entre pai e filha. Para variar, ele já tinha pedido 453 vezes para ela entregar o nome do livro de inglês que tinha acabado na livraria da escola. O progenitor, organizado e ansioso, queria adiantar o serviço e adquirir pela internet. Já tinha calculado o prazo que levaria para entregar, 4 dias úteis, e queria acabar logo com o serviço para que a jovem, nada preocupada com o babado, tivesse o material didático em mãos.
A súplica começou às 13h30. Até à meia-noite e meia, ainda não tinham resolvido a questão. Ele cansou, era de se esperar, ela surtou e a disavença começou. Uma rodada de baiana profissional.
O pai exausto decretou o pior castigo: Você não vai à festa de amanhã. A primeira festa do colégio novo. Foi morte instantânea. O bico cresceu, a marcha até o quarto acordou todos os vizinhos de baixo, a bateção de porta acordou o prédio.
Estava armado o barraco.
Eu ouvindo as mazelas dos dois lados e tentando negociar com ambos. Coloquei mais que panos quentes, ofereci panos em ebulição.
Não foi abuso de poder, concordo. Foi imposição de limites.
Orientei o ser adolescente a admitir que pisou profissionalmente na bola e que conversando que nem gente civilizada, a situação poderia se reverter. É uma tentativa.
Agora, estou ajoelhada no milho, torcendo para que os dois cheguem a uma conclusão feliz para todo mundo.
Ser mãe, às vezes, é pior que ser advogado que cuida de divórcios litigiosos, com o agravante de não levar nenhum din din.
Marot Gandolfi
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