domingo, 13 de fevereiro de 2011

Workaholics assumidas

Vou organizar uma excursão, embora tenha fobia de viagem em bando. Esta será por uma boa causa.
A ala feminina será convidada em peso. Para onde vamos? Roma! Ah, Roma, a cidade eterna. O que vamos fazer? Visitar o Papa? O Coliseu? Piazza Navona? Ver a última coleção de inverno na Via del Corso? No way, vamos pichar o túmulo da Jordi Ford. A insana que queimou o sutiã em praça pública, em 1968, em Atlantic City, para exigir igualdade de direitos entre homens e mulheres. A maluca de plantão só conseguiu equiparar os deveres, há controvérsias, os nossos tem sido maiores, mais pesados, e os direitos, nada, água.
Louca da aldeia. Cada integrante da excursão terá direito a uma lata de tinta em spray e poderá escrever o que quiser na lápide desta maníaca.
Nasci em 1965 e por lógica, virei uma workaholic de mão cheia. Nunca tomei chá da tarde com uma amiga em lugar nenhum. Eu tomo chá branco numa garrafinha de plástico para emagrecer, de um trajeto a outro, entre uma e outra reunião, porque não dá tempo de fazer drenagem linfática, carboxiterapia, massoterapia e outras pias. Nunca fui a um desfile de uma nova coleção, se bobear, compro roupas pela internet.
Corro como uma desembestada por São Paulo. Chego em casa, o jantar não está posto. Arrumo a mesa, e enquanto esquento a gororoba, dou uma olhada no computador. Comemos. Tiro a louça, dou uma olhada no computador, dou uma geral no quarto, separo a roupa para o dia seguinte e desligo o notebook depois de muito tempo. Vejo se minha filha fez a lição. Converso rapidamente com ela. Se encontro meu filho, trocamos meia dúzia de palavras. Ele é um turista, raramente o vejo. Vou me arrumar para dormir, tiro a maquiagem, passo um novo creme, descubro uma nova ruga, visto a camisola, me atiro na cama, leio dois capítulos de algum livro, brigo com o sono que insiste em tomar conta do meu ser, ele ganha. Desmaio e acordo no dia seguinte pra mais uma maratona. Pago minhas contas, nunca pedi dinheiro a ninguém, ajudo no orçamento de casa e corro freneticamente atrás de novos trabalhos. Resolvo a vida com meus filhos. Tenho amigos, mas os vejo muito menos do que eu gostaria. Navego pelo Facebook o que me ajuda a minimizar a saudade. Para completar, resolvi voltar a escrever crônicas. Não mato um leão por dia. Mato o zoológico inteiro. Tudo isso, com delineador, rímel, batom cor de boca e salto alto.
É mais um besteirol falar desta mulher que incendiou a lingerie n em praça pública. O fato é quem com ela ou sem ela, eu não seria diferente. Sou movida a desafios, amo meu trabalho e odeio a ociosidade. Ainda bem que nasci na época certa.

Marot Gandolfi

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