domingo, 13 de fevereiro de 2011

Lorde inglês

Fui ao show do Paul McCartney. Não perderia por nada. Sou um beatlemaníaca de carteirinha. 
Ao saber que ele viria de novo ao Brasil, fui à primeira vez, comuniquei a quem pudesse se interessar, que eu iria, mesmo que tivesse que fazer um papagaio no banco. Meu filho na hora topou, minha filha foi intimada. Sem negociação. Confesso que foi uma aventura que começou pela compra dos ingressos. Agora tem um lance é virtual. Antes eram filas com cambistas, agora o perrengue é online.
Na pré-venda tentei heroicamente comprar os ingressos. Doce ilusão. Era exclusivo para quem tinha Visa com bandeira do Bradesco ou vice-versa. Só tenho HSBC e Itaú e todas as bandeiras Visa, Mastercard, American Express, mas de nada adiantou.
Começou a venda para plebe. Fiquei da meia-noite às 3 horas da madrugada, a porcaria do site dando pau e claro acabaram os ingressos. Não era o show do Wando, nem da Rosana (aquela de "Como uma Deusa").
Quase joguei o computador pela janela, quase me joguei da janela.
Alguns dias depois, a organização soltou um comunicado que o ex-beatle faria outro show em Sampa City. Yes!Agora vai.
Como gato escaldado tem medo de água fria, fiz o que nunca em sã consciência eu faria. Pedi o cartão emprestado para minha prima, que tem o tal do Visa Bradesco. Era show do Paul, valia a pena abrir mão de um dos meus valores. A venda estava programada para a partir da meia-noite. Me preparei, me alimentei, dormi antes, fui ao banheiro, agora não iria melar. Estava com o cartão vip Visa Bradesco e o escambau.
Duas horas para começar o raio da pré-venda para o segundo show, acaba a luz. Jesus, me salve. Não estou acreditando. A luz voltou e depois de um inferno de tecladas comprei os benditos ingressos. Pronto, o paraíso me espera.
O primeiro show foi num domingo. Um dia lindo com sol e à noite uma lua maravilhosa brindando a chegada do astro. Não li nada a respeito, nem quis ver o show pela TV. Nada estragaria a minha surpresa.
Amanheceu, dia do show do Paul, minha gente. Eu parecia uma adolescente no dia da festa de 15 anos. Chovia a cântaros. Nada que uma capa de chuva não resolva. Não era chuva ácida, água não mata ninguém.
Cheguei relativamente cedo ao estádio, já quase não havia lugar na arquibancada azul, ao menos, em uma localização que eu conseguisse enxergar o meu amado. Depois de caçar um lugar no meio do dilúvio, já encharcada, encontrei um lugar ao sol, ou melhor, um lugar na chuva.
Foram algumas horas até a apresentação ter início. Nada me incomodou. Eu estava ali. Isso bastava. Eu ia ver e ouvir o Paul com meus filhos, 27 e 14 anos. Dá para entender?
As pessoas chegando, todas as idades, todas as cores, de todos os cantos do país. Todos com a mesma expressão. Ansiedade e emoção à flor da pele.
Olhei ao redor do estádio do Morumbi e consegui enfim entender o que meu filho sente num jogo de futebol (ele vai a todos os jogos do São Paulo). Era uma massa de gente esperando pela mesma coisa, desta vez o gol do Paul McCartney. Isso por si só já é o cúmulo da emoção. 64.000 pessoas embaixo de chuva. Chuva? Ninguém estava nem aí para a chuva. Cadê o Paul?
Ele entrou, excepcionalmente com 15 minutos de atraso, em respeito a quem não conseguia chegar por causa da tempestade que inundou a cidade. Subiu ao palco e como num passe de mágica a chuva parou (vale lembrar que eu liguei para minha prima e pedi para ela colocar um ovo para Santa Clara, just in case).
O estádio estremeceu. Não é figura de linguagem. Podíamos sentir o chão vibrando. Ele começou a tocar com a banda que é absolutamente incrível, o baterista é um show a parte, e ninguém mais sentou.
O cara é o Paul McCartney, dá para entender? O Paul McCartney, pessoas. Foi megasimpático, falou a maior parte do tempo em português e até a falar melhor que muito brasileiro. O que não é lá muito difícil, vejo diariamente erros absurdos de gramática e ortografia cometidos por universitários que devem fazer o Professor Pasquale surtar todo santo dia. 
Voltando ao show. O magnífico Paul tocou e cantou, como nunca, ou melhor, como sempre. Foi espetacular, mágico, inesquecível. Não sei dizer qual música eu mais gostei, é uma escolha difícil. Na hora que ele cantou My Love, não deu. Chorei, chorei muito. Meu filho que estava ao meu lado, me abraçou, me deu um beijo e não disse nada. Não precisava dizer nada. Em seguida, Paul cantou The Long and Winding Road, cai aos prantos. Valeu cada lágrima.
Meu filho e seus dois amigos curtiram cada segundo. A praia deles é rock mais pesado. A minha é mela-cueca. Minha filha e a amiga nem pareciam que estavam no show. Minha filha até ensaiou umas levantadinhas, mas e o mico? Fiquei horrorizada, eu falava para ela, filha você está no show do Paul McCartney, você consegue entender isso? Não é o Justin Bieber, nem os Jonas Brothers, talvez ele nunca mais venha para o Brasil. Mas um dos amigos do meu filho me consolou. Fique tranquila, daqui a 20 anos ela vai dizer – Eu fui ao show do Paul McCartney. Nem precisou todo este tempo, na semana passada ela disse que se arrependeu muito de não ter curtido na hora.
Foram 3 horas de um show espetacular, vibrante e emocionante. Como pode uma banda que existiu por apenas 6 anos continuar conquistando fãs pelo mundo todo após 4 décadas? Sorte, nem a pau Juvenal, é competência e carisma.
Valeu cada segundo, cada gota de chuva, uma Coca-Cola por R$ 5,00, uma cerveja por R$ 6,00.
Eu fui ao show do Paul e iria de novo. 
Marot Gandolfi

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