terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Quarentonas na balada

Sou quarentona, não "velha". Minha mãe com 45 anos era uma senhora, com bom humor, isso é verdade, mas uma senhora.
Hoje, as mulheres de 40, 50, 60 estão mais bonitas, mais ativas, mais dinâmicas. Sei lá se é o botox (ainda não apliquei) ou senso de humor.
Aos 30 anos, combinei com uma amiga que não iríamos cometer o ato insano de usar cabelos compridos depois dos 40. Afinal, não tem nada mais ridículo que uma velha tentar parecer mocinha. O legal é estar bonita com a idade que se tem. Estamos com 45 anos e longas madeixas contornam nossos rostos. Somos a prova viva que ao cuspir para cima, o dito cujo cai direitinho em nossos crânios. E ouso a pensar que com 50 ainda estaremos como a Dalila.
Tudo bem, usamos longas cabelereiras, mas em nossa defesa, não estamos bregas não. Arrisco inclusive a afirmar que estamos melhores do que aos 20. Eu, ao menos, me sinto melhor fisicamente falando. Sem neuras, sem muitos traumas, vestindo roupas que me agradam e não me importando muito, ou melhor, nada com o que os outros acham.
Uma noite, alguns amigos, todos casais, combinaram de dançar numa dessas casas noturnas que tocam flashback (afinal temos 45) e não curtimos baladas tecno.
Lá fomos nós, as duas amigas e mais 6 casais.
A aventura começou com a escolha da roupa. Ela liga Com que roupa devemos ir? Eu respondo "Sei lá! Faz 20 anos que fui neste lugar. A tal casa noturna mudou de endereço faz 15 anos e eu não sabia.
Combinamos o modelito, nem muito careta, nem muito ousado. Na medida certa.
Passei na casa dela no horário combinado. Fomos para o lugar. Não tinha uma viva alma na entrada. Uma olhou para a outra E agora? Ficamos dando voltas no quarteirão, como duas adolescentes loucas, para não corrermos o risco de chegar primeiro. E o mico?
Depois de 20 minutos circulando pela Vila Olímpia, que nem peruas em véspera de Natal, deixamos a viatura com o manobrista. Entramos, pagamos, felicíssimas porque mulher paga a metade. Eu sem entender o motivo desta distinção sexual, até que me explicaram. É para incentivar as mulheres a irem à boate. Demorei para entender, meu lado loiro não permite uma compreensão assim tão vapt vupt.
Nossos amigos foram chegando, dois a dois. Conseguimos um camarote. O lugar estava vazio. Aos poucos foi enchendo. Lá pelas tantas, não tinha espaço para uma mosca.
Começou a tocar música dos anos 70, 80 e um frenesi tomou conta de nós. Fomos para a pista para dançar em rodinha. Eu olhava para cima e só via homens, olhava para os lados mais homens. De todas as idades, todos os tipos físicos, todos com a mesma atitude, caçando.
As mulheres dançavam sensualmente, tipo estou aqui.
E nós lá, só dançando.
Resolvi fumar um cigarrinho, ninguém é de ferro, numa área externa, o quintal com o lixo dos lixos. Locais reservados aos fumantes depois que o Serra baixou o decreto. Corretíssimo, lugar de fumante é no lixo.
Estava eu lá, linda e formosa, desgustando a nicotina a corroer meus pulmões, quando chega um ser. Mais ou menos 30 anos, careca (nada contra os carecas, afinal é dos carecas que elas gostam mais) e completamente embriagado. Ele vai chegando, sorrateiro e lança uma pergunta Posso falar com você? Olhei para o lado e disse Não. A alcoolizada criatura continua Deixe eu falar com você, por favor. Eu, realmente não interessada naquele ser humano (aliás, em nenhum, realmente fui só para dançar), digo Não. O chatonildo da silva continua Por favor, só uma palavrinha. Pensei cá com os meus botões, nossa tô abafando. Dei uma de legal e disse Fale! O garoto de 30 começa com a ladainha Meu amigo ali quer sair com uma mulher mais velha, mas eu acho que mulher mais velha só traz confusão.O que você acha? Juro que não entendi. Perguntei: O que você disse? Ele repetiu. Virei as costas, fui embora batendo os pés e correndo atrás de um antidepressivo, pelo amor de Deus. Das duas uma: ou este cara é o rei das piores cantadas ou ele é maldoso e cutucou meu nervo ciático.
Como as minhas raízes são loiras alternadas com branco, só pensei na resposta meia hora depois. Eu deveria ter dito Eu acho que você está coberto de razão, meu rapaz. Tenha como exemplo sua mãe. Veja o que ela expeliu no mundo. Tentei encontrar o gambá, mas infelizmente ou felizmente, não o vi mais.
Mulher sozinha sofre, muito. Se quer só dançar, é quase uma jornada impossível. Parece que está numa vitrine com uma etiqueta de preço. Algumas com grife, outras em liquidação.
Não desisti ainda. Adoro dançar e hei de encontra um lugar normal, com gente normal, para ensaiar dois pra cá e dois pra lá.

Marot Gandolfi

5 comentários:

  1. MAROT,

    SOMOS QUARENTÕES E DA BALADA!!!!
    ESTE SER QUE VOCE TEVE O DESPRAZER DE ENCONTRAR É UM PERDIDO NA VIDA, TE GARANTO QUE NADA TEVE COM A CASA. VAI LÁ UMA SUGESTÃO DE UMA PASSADA NA " THE HISTORY"

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  2. Morri de rir com a historia! Gargalhadas mesmo... Não com o que o demente disse, e sim com todo o enredo. TO ADORANDO ISSO DAQUI! BJOSSSSSSS

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  3. Marot, adoro suas histórias.Vou ficar aguardando a próxima balada.

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  4. Nossa, que interessante, tenho 45 anos e depois de milenios, vou sair para dançar, com minha cunhada e minha filha...Bem como disse é para dançar messsssssmo. Mas lendo sua história, agora estou pensando, meu Deus, como vou me vestir ou o que esperar desse ambiente, que antes era tudo de bom para ser feliz? Enfim,vou num show dos anos 70 e 80 e tentar não encotrar nenhum gamba careca, será que é possivel, rsrsrsrsrr

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  5. Amei seu post!!!! Quanto a cabeleira, tenho 48 e ainda a uso...rsrs. A criatura que você teve a desventura de encontrar não tem cabelos e olha o que sai daquela mente. Eu também tinha a visão equivocada do jovem sobre a maturidade e me prometi coisas loucas....agora que cresci...rsrs....descobri que vim pro mundo pra viver intensamente. Sou Leoa e não gato ...só tenho uma vida e estou aqui pra vive-la!!!!!!

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