segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Crendices

Desde criança eu ouço que deixar sal cair no chão dá azar. Cresci ouvindo minha mãe e tias dizendo o que isso dá azar, que aquilo que dá sorte. Sinceramente, nunca descobri o que realmente traz bom ou mau agouro.
Estas crendices são hilárias e por mais que eu me esforce, pelo sim ou pelo não, obedeço religiosamente alguns destes conselhos. Assisti um trecho de um programa da Regina Casé na TV e um convidado ia começar a abrir um guarda-chuva no palco. Ela surtou. Pulou no infeliz para impedir tamanha heresia e disse em alto e bom som: Não abra guarda-chuva dentro de nenhum lugar, dá um azar danado.
Ri sozinha, mas cá pra nós, eu jamais abriria uma sombrinha dentro de casa. Investi um tempo precioso pensando em todas estas teorias maternas e nenhuma tem uma explicação racional.

Não se passa o sal de mão em mão. O que fazer então? Atirar o sal no infeliz– o máximo que pode acontecer e deixamos cair o sal na comida alheia e fazer aquele ser humano ter uma elevação de pressão arterial.
13 pessoas não devem sentar numa única mesa – E se uma família tiver 13 componentes? O 13º fica ajoelhado ou come na cozinha? Dependendo da 13ª criatura pode até ficar ajoelhado no milho.
Bolsa no chão faz perder dinheiro – se um larápio passar por perto e carregá-la vai dar um trabalhão, isso sim.
Passar embaixo da escada – só se cair uma lata de tinta e estragar aquele modelito lindo que nos deixa magérrimas.
Quebrar espelho – realmente juntar os caquinhos e cortar a mão dá um superazar, só não sei se por sete anos, talvez uns sete dias, até cicatrizar. Isso sem falar da falta que o dito cujo faz para aplicar o delineador. O cajal eu até aprendi a passar sem olhar para nada com reflexo.
Segurar uma chave na mão na hora de vomitar ameniza o enjôo – só se for a chave do banheiro.
Simpatias de final de ano – destas não escapo. Sete sementes de romã, doze de uva, lentilha, não comer nada que ande de ré, um golinho de champagne em cima da mesa com um pé só, pular sete ondas, jogar flores para Iemanjá, uma folha de manjericão na carteira, calcinha vermelha, calcinha branca, calcinha amarela. É tanta coisa que é humanamente impossível fazer tudo isso em um só minuto. O minuto da virada é o mais estressante do ano.
É um desafio hercúleo levar tudo isso a sério. Na dúvida, não dou sopa para o azar.

Marot Gandolfi

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