segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Corrente do mal

Sou otimista de nascença, de carteirinha. Confundo otimismo com ser Polyana ou Alice no País das Maravilhas.
Minha mãe tinha uma teoria - notícia ruim corre rápido. Ela dizia – Se alguém passa de ano na escola, ninguém conta. Mas se alguém repete o ano, todo mundo liga, conta, conta o conto e aumenta muito o ponto.
Isso não se limita mais a um petit comitê. Ultrapassou e muito a nossa cerca. Basta assistir aos noticiários na TV ou ler os jornais.
Meu pai tinha o hábito de assinar um jornal. Todo santo dia o danado chegava logo nas primeiras horas. Aquele veículo de comunicação tinha o poder mórbido de acabar com o meu dia logo pela manhã, era um bom dia direto do inferno. Não havia uma só edição que não estivessem estampadas na primeira capa, as piores desgraças do mundo.
Revistas semanais também. Lembro-me de um caso escabroso de um casal de jovens que foi morto de maneira bizarra nos arredores da Grande São Paulo. Meu pai, que era uma pessoa espiritualizada, leu aquilo e ficou tão impressionado que entrou em depressão. Fez de tudo para eu ler o relato detalhado de tamanha barbárie. Eu me recusando e ele esfregando no meu focinho a matéria, com fotos dos jovens, o retrato falado do assassino que praticou a carnificina, o depoimento comovente dos pais.
Como jornalista preciso ficar atualizada sobre tudo o que acontece, mas este tipo de notícia não quero saber e muito menos espalhar. Alienação? Não, preservação.
O ser humano tem uma sede de ficar por dentro de todo tipo de desgraça. Quando há um acidente no trânsito, todo mundo para pra ver, no melhor esquema urubu de ser. Raros param para ajudar.
Temos vários líderes da divulgação do horror que me fazem ter vergonha de ser jornalista. Entram no ar praguejando e comentando as maiores atrocidades. São urubus em busca de carniça. Instigam a violência. E estes apresentadores estão se procriando numa velocidade frenética por uma única razão: dá IBOPE, as pessoas assistem, a maioria adora. Eu já vi estes programas em padarias, lojas de conveniência, consultórios médicos, laboratórios, cabeleireiro. É uma praga pior que a gripe suína.
Coisas boas também acontecem todo santo dia. Arrisco-me a dizer que há muito mais gente do bem do que do mal. Mas não dá IBOPE.
A vibe que se espalha é tão tenebrosa que virou uma epidemia, todos comentam só sobre a desgraça do dia.
Depende de nós, mudar o canal, mudar o assunto, mudar o esquema.
Que tal espalhar uma notícia boa hoje só para variar?

Marot Gandolfi

Um comentário:

  1. Parabéns Marot. Vá em frente. Isto faz parte de nossa Psico-sócio-patologia.

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