segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A dor da alma

Acabo de ler o livro da Martha Medeiros - Fora de mim!
Quando leio seus textos tenho a impressão que nos conhecemos há anos, talvez encarnações.
Se as pessoas são únicas e tem formas diferentes de sentir e de se expressar diante de uma mesma situação, como esta jornalista e escritora fabulosa consegue traduzir em palavras tão claras os meus sentimentos? É um tipo de magia, será que ela é parente da mãe Diná? Duvido que ela saiba quem é a Mãe Diná.
O fato é que a Martha, veja a intimidade, tem um talento único não só para escrever, que diga-se de passagem, ela sabe maravilhosamente. Tem um dom muito especial, o de conseguir traduzir em palavras os sentimentos mais profundos, as dores da alma, a angústia do peito que chega quase a ser uma dor física, arrisco-me a dizer que é física, a de um alicate apertando o meu peito até explodir e que nunca explode, testa meu limite, uma tortura abominável como as aplicadas na ditadura. Todo dia aperta um pouquinho, todo dia, só mais um pouquinho, em doses homeopáticas.
Não sei se ela escreve tendo a própria vida como experiência.Tenho até a curiosidade em saber, porque vou me sentir menos sozinha, menos louca talvez. Afinal, alguém também já sentiu o mesmo que eu? Costumamos achar que nossos problemas são exclusivos.
Se ela escreve ficção é a versão feminina do Chico Buarque. Ele também consegue expressar, mesmo sendo homem e com H maiúsculo (que homem, que olhos, que sorriso), tudo o que uma mulher sente. Nunca consegui entender como ele consegue externar de forma tão contundente a emoção de uma mulher.
Como algúem consegue explicar a saudade? É impossível. O Chico consegue Ó pedaço de mim, ó metade arrancada de mimleva o que há de ti, que a saudade é arrumar o quarto de um filho que já morreu...é assim como uma fisgada num membro que já perdi. A Martha também tem este dom, em outro estilo, mas tão profundo e tocante quanto o do Chico.
Por algumas razões, várias fora do meu controle, parei minha terapia. Ao ler as crônicas e livros da Martha, revivo todas as emoções daquelas tardes.
Em uma das crônicas de Doidas & Santas, outra obra espetacular de Martha, há uma profunda reflexão sobre o viver agora. Dúvida: como a gente vive e convive com esta dor? Qual o limite para suportar? Como arrancar de dentro de do peito esta dor dilacerante? Quem sabe, no próximo livro, que vou comprar hoje, eu consiga descobrir a fórmula mágica. Se não conseguir, já vale a leitura dos seus textos magníficos.
Obrigada Martha! Obrigada Chico!
Marot Gandolfi

2 comentários:

  1. Tenho (temos) uma amiga que costuma dizer que uma das minhas qualidades (será que tenho muitas? só esta?) é ter a porção feminina "viva", e deixar que ela sem manifeste. Isso é bom? Com a palavra, todos voces...

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  2. Isso não é bom! Isso é ótimo, imprescindível, nunca perca isso,

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