quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Geração sem noção

Falta limite. Não há outra explicação.
Tenho uma filha de 14 anos. Isso por si só já explica a fase. Nem precisa dizer mais nada: mudança de humor em questão de minutos no mesmo dia, bufos (já cheguei a pensar que sofre de asma), impaciência extrema, nada está bom, minha mãe não sabe
nada, meu pai é um chato. O que a difere de outros adolescentes nesta fase? Neste quesito absolutamente nada. Já pensei que isto deve ser uma matéria que se ensina na escola, todos eles são iguais e têm até as mesmas expressões com os olhinhos revirando o tempo todo, fora a quantidade de suspiros.
Por mais que em alguns momentos isso seja cansativo e é, faz parte do crescimento, em maior ou menor grau. Também já passamos por isso, com uma tolerância bem menor dos nossos pais, diga-se de passagem. Chega até ser divertido, quando não estamos tão cansados física e emocionalmente.
O que me preocupada é a total falta de limite desta nova geração. Não quero fazer nenhuma apologia ao meu tempo, que era diferente, que eu fazia assim ou assado, que se eu respondesse assim para meus pais, teria que juntar toda a grana do mundo para refazer meus dentes. Sou uma pessoa relativamente antenada. Navego pela internet com certa desenvoltura, uso as redes sociais, tenho um blog (que ousadia para uma quarentona), sou dependente do celular, embora não o use em toda sua potencialidade.
Acredito que não dá para criar um filho ou filha de formas diferentes. Não no mundo de hoje isso, é hipocrisia. Mesmo no passado já não concordava com isso. Garotos e garotas devem ser educados para serem gente, de preferência, gente do bem, cidadãos honestos e responsáveis.
O que tenho visto e tem me assustado muito com esta geração é que a maioria desconhece a palavra e o significado de limite. O pior é que os próprios pais desconhecem a importância de mostrar a "carteirinha de pais" e aplicar limites. Ninguém mais sabe dizer não. É mais fácil dizer sim. Não se vê caretas, respostas malcriadas, pentelhação. Vamos dizer sim e seguir em frente, pais! A vida vai acabar ensinando o dito cujo. Enquanto a vida não ensina, eles saem por aí barbarizando, perturbando a existência alheia e detonando por onde passam.
É uma geração descompromissada que vive numa bolha. Nos colégios de elite, em quase todos, os alunos pensam somente no próprio umbigo, valorizam camisetas de marca (quem não usa é "zoado"), celulares de última geração, viagens fantásticas, a próxima balada. Não têm noção do que é a vida de verdade, quanto custa a escola, inglês, jazz, balada, roupas, muito menos a conta do celular.
Não têm noção que fazem parte de uma minoria. A vida para eles é isso. E nós, pais, temos uma grande parcela de responsabilidade. Quantos dos nossos filhos andam de ônibus pela cidade? Quantos já fizeram algum trabalho voluntário? Quantos trabalharam de verdade para conseguir algum troco? Quantos sabem qual é orçamento mensal da casa? Quantos sabem o valor da mensalidade da escola? Quantos ajudam a tirar a mesa, lavar a louca, jogar a roupa suja no cesto, fazer o jantar,  limpar a casa quando a empregada falta, arrumar sua própria cama? Nós estamos criando seres que acreditam em fadas. A fada da louça, a fada da máquina de lavar roupa, a fada do banheiro limpo. Estes adolescentes, tão maduros para beber e "ficar", acreditam neste mundo de fantasia. Caso contrário, como explicam uma roupa limpa e passada no armário, um jantar gostoso e quentinho à mesa, uma casa cheirosa e arrumada? É obra do Divino Espírito Santo?
A maioria dos jovens que estuda (quando estuda) em colégio público, enfrenta uma maratona para ir e para voltar da escola para casa e vice-versa, quando tem material a maior parte pertenceu a alguém, não tem um caderno para cada matéria, não tem internet em casa, não tem balada e muitos já trabalham para colaborar com os gastos em casa.
Escuto, às vezes, de alguém indignado (a maior parte destas pessoas tem seus filhos nestes colégios) que um office boy gasta seu salário para comprar um tênis de marca. Um absurdo, como pode? Ora, ele também quer fazer parte da "bolha", porque o meu filho pode e ele não?
Mudei minha filha de escola, após 10 anos, por acreditar que eu estava falando um idioma e o colégio outro. Eu falava zandoriano, eles entendiam sei lá o que. Definitivamente, não dava mais jogo. Como você vai enfiar alguma coisa no cérebro desta criatura se as duas referências que ela tem não se entendem.
Bebida alcoólica - é uma epidemia. Assusta-me e muito esta garotada de 14 anos dando PT, isso mesmo, perda total. Levam a bebida na bolsa para casa do amigo. Além do perigo de beber é uma baita falta de educação. Você leva comida numa festa? Você leva bebida numa festa? Levar um vinho para o anfitrião num jantar é uma gentileza. Levar vodca, escondido na mochila é o fim da picada.
Os adolescentes rebeldes sem causa acham que os pais estão à disposição para sair a qualquer hora do dia ou da noite para buscá-los seja onde for. Não aceitam combinar um horário. Ainda fazem o infeliz esperar na porta da balada. E não podemos parar na porta. E o mico, onde fica?
Olham um papel no chão e não pegam para jogar no lixo. Não é problema deles. Nem mesmo dentro da sua própria casa.
Deixam as roupas sujas pelo chão, a empregada é paga para isso.
Levantam da mesa e não retiram a louça, mesmo na casa dos amigos, coisa que nem por sonho eu podia fazer. Eu brigava para tirar a mesa na minha casa, mas na casa dos outros eu era a pessoa mais educada do universo – uma lady.
Nestas escolas elitizadas quantos alunos são negros? Deficiente físico nem pensar. Além das escadas que impossibilitam o acesso para qualquer um que não tenha pleno controle das pernas, mesmo tendo milhares de alunos. Estranho, não? Ouvi de pais que tem filhos com alguma deficiência que a própria escola não incentiva matriculá-los na instituição, pois a criança enfrentaria problemas de adaptação. É razoável, pois criança é maldosa, toca no ponto fraco do outro, inventa apelidos na hora. Sabe com quem seria o problema? Com os pais dos outros alunos que não aceitam diferenças. Não aceitam diferenças raciais, culturais e físicas. Como queremos que nossos filhos, aqueles que vão nos governar em poucos anos, que deveriam combater a injustiça social, sejam criados desta forma? Esta geração não tem comprometimento algum e não consigo imaginar como vão enfrentar o mercado de trabalho.
Quem tem problema, os adolescentes ou os pais?
Educar dá um trabalho do cão. Eu não mato um leão por dia, extermino um zoológico inteiro. É desgastante, cansativo, um porre. Significa muitas vezes mostrar a carteirinha de mãe e dizer um redondo não. O mundo pode ter mudado, ficado mais moderno, as coisas acontecem mais cedo do que na minha época, mas educação não muda. Os valores essenciais permanecem e devem permanecer. Estamos criando uma geração sem noção, criada por pais mais sem noção ainda. E isso é muito mais perigoso do que se imagina.
Educar não é coisa do passado. Não sai de moda.
Vale a pena ouvir o filho, conhecer seus amigos, aplicar limites, dizer não. Somos responsáveis por estes seres. Não expelimos do útero apenas. Somos pais, a melhor e a pior tarefa do mundo.







Marot Gandolfi


9 comentários:

  1. Não sabia do seu blog!!! Adorei a idéia e o texto. De verdade vc devia publicar! é bem essa a realidade dessa juventude. Ai eu te pergunto, como é que eu posso ter vontade de ter um filho para jogar nesse mundo louco?

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  2. Eu te entendo...querer ter filho agora exige muito mais do que coragem...exige ousadia. Mas eu ainda acho que ter um filho é a emoção maior do mundo e que vale a pena ter o melhor e pior trabalho do mundo, criar um ser.
    Com o tempo talvez você mude de idéia. Agora é difícil mesmo.

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  3. Recebi o seu texto em um email de uma amiga, e gostei bastante, sou pai e tenho 2 filhas, fico apreensivo mas também confiante com o futuro,que pode ser mudado com reflexões como a sua.
    abraços

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  4. Que bom que você gostou! Eu quis desabafar e acordar tantos pais adormecidos!
    Eu não vou desanimar, muito menos, aceitar de braços cruzados este futuro desolador. Este é meu lado escorpiniano, rsrs NAO VOU FAZER ISSO. Não quero e não vou deixar de exercer o papel mais importante da minha vida que é ser mãe. Trabalho que nem uma louca, tenho amigos,cuido da minha casa, quero viver intensamente, realizar um MONTE de sonhos, mas disso eu nao abro mão!

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  5. OI Querida !
    O que aconteceu você sumiu?
    Vou cantar para vc voltar.Cade vc q nunca mais apareceu aqui que não voltou pra me fazer sorrir,então cade você? gostou eu sou a louca da aldeia do salão sua manicure .Beijos VERENA

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  6. Oi Marot !
    Parece que Vc convive diariamente em nossa casa com nossa filha caçula.
    Bjs
    Nelson e Neuza.

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  7. veja isso, Rô:
    http://www1.folha.uol.com.br/bbc/863398-mordida-de-mae-tigresa.shtml
    beijos
    Wan

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  8. Que pena que é fato. Gostaria muito que fosse diferente.

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