domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tamanho não é documento. É sofrimento.

Sempre briguei com a balança. Nunca fui obesa, mas como toda a mulher nunca está feliz com meu peso. Jamais fui uma amiga íntima daquele objeto delator que insiste em morar no meu banheiro. Analógica ou digital insiste em me alertar sobre aquilo que não quero saber de jeito nenhum, a balança. Objeto usado na inquisição.
Esta fobia deve-se a mim mesma, ao altíssimo nível de perfeição que me imponho e que, obviamente, gera uma frustração absurda. Além de minha exigência ser completamente sem noção e fundamento, tenho que convir que as lojas também contribuem e muito, para meu desespero e agonia.
Uma grande amiga a qual me refiro como “Google Humano” me indicou uma ponta de estoque de uma marca famosa. Esclarecendo, a chamo de Google humano, porque ela é sabe tudo, absolutamente tudo. Uma mulher bonita, antenadíssima, uma profissional liberal supercompetente e que não usa internet. Vivemos em pleno século XXI e esta criatura recusa-se a ter um e-mail. Tudo que preciso saber, sobre os assuntos mais aleatórios, este jurássico ser tem uma indicação e o endereço no exato momento. Que Google que nada, ligue para a Cássia.
Por mais absurdo que seja, ela sabe como usar a internet. Meu raciocínio, mesmo que precário, não consegue absorver tamanha façanha, sem nem e-mail a pessoa tem. Semana passada ela me orientou por telefone a preencher toda a ficha de agendamento do visto americano pelo site do Consulado. Eu havia tentado e estava entrando em parafuso. Resolvi contratar um despachante e pagar R$ 600,00 pela renovação do visto. Quando contei ao Google humano, ela quase surtou. Eu no computador, as duas no telefone, a alucinada me ditou tudo o que eu tinha que fazer, tim tim por tim tim e, para minha surpresa, não só consegui, como marquei o agendamento para menos de um mês.
Esta amiga googleana me indicou uma novidade quentíssima, uma ponta de estoque. Que mulher não se deleita ao descobrir uma liquidaçãozinha? Sedenta por roupas com bom preço, como um camelo em busca de água no deserto, lá fui eu com minha filha. A loja tem roupas bárbaras por preços indecentemente ótimos. Comprei várias peças para a adolescente que pesa 45 quilos. Para mim, nada. E eu nem achava que estava tão ruim assim, já estive bem pior.
Eu gostaria de entender porque as confecções mais descoladas e criativas consideram um manequim 42 fora do padrão, uma afronta. Cacilda. Não tem nada que aniquile mais a autoestima de uma mulher, ver um modelito lindo na vitrine, entrar na loja e ele não passar nem nos joelhos. Um momento de profundo terror e agonia.
Conversando com outras comparsas, descobri que estes minutos de desespero que mais parecem horas intermináveis, não acontecem só comigo. O sofrimento neste quarto do horror, aonde já vivi minhas maiores fobias, de 1 metro x 1 metro, um espelho maquiavélico e uma luz que denuncia todo o traço de imperfeição, não é uma exclusividade minha.
Estas roupas são feitas para comedoras de alface, que deixam de se alimentar, não só deixam de comer salgadinhos, chocolates, refrigerantes, para entrar numa calça 36.
Nós, manequim 42, também queremos nos vestir bem, dar uma turbinada no charme, sentir que estamos no auge. Confecções e estilistas acordem. A população está envelhecendo. Todo mundo sabe que as mulheres ganham peso com a idade. Quando é chegado o monstro cavernoso da menopausa, nem se fale. A cada ano a mulher ganha um quilo que nunca mais vai embora. Tenho medo de chegar aos 50.
Se a moda que dita leis não mudar seu conceito rapidamente, as mulheres que não forem anoréxicas vão andar peladinhas da silva. 

Marot Gandolfi

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