quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Síndrome de Estocolmo

Há uma primeira vez para tudo. Primeiro dia na escola, primeiro beijo, primeira transa, primeiro trabalho, primeiro dia na faculdade, primeiro amor, primeira desilusão amorosa, primeiro casamento, primeiro segundo casamento, primeiro divórcio, primeiro carro roubado, primeiro assalto.
É lugar comum perguntar - Quantas vezes você já foi assaltado? Não acho nem um pouco engraçado. É de um tremendo mau gosto, mas é fato.
Aos 21 anos, milênios atrás, trabalhava na Editora Abril. Vivia num frenesi, nada diferente do que é agora. Tocava eventos e todo tipo de assunto aleatório. Tudo que há de mais surreal acontecia no meu departamento, inclusive comprar um caminhão de melancia para promover um filme nacional. Naquele tempo filme brasileiro só tinha um enredo. Neste em questão, o Claudio Cavalcanti tinha um caso com uma melancia. O dono do caminhão até hoje deve estar pensando que raios eu fiz com tanta melancia e nem estava jogando truco - vale um caminhão de melancia.
Um belo dia, durante meu dia-a-dia alucinado, escutei uma criatura aos berros saracoteando pelos corredores do escritório. Pensei cá com os meus botões, o Seu Luiz deve estar querendo me trucidar para variar um pouco, afinal eu delegara a ele as tarefas mais insanas que poderiam existir.
Minha sala era na frente do Diretor Geral (uma fria, mas não pude escolher). De repente, me deparo com uma cena chocante. O diretor e mais dois visitantes da Quatro Rodas deitados no chão. Num primeiro momento pensei que era algum tipo de ritual, mandinga ou apenas o pagamento de uma promessa pelo contrato ter sido fechado. Em uma fração de segundos, senti uma coisa gelada encostando no meu crânio. Vejo um demente com um revólver apontado para minha cabeça loira. Comecei a tremer que nem vara verde. Ele falava: Senta. Eu não me mexia. Ele gritava - Senta se não eu te queimo. Eu paralisada que nem um ás de paus. Minha colega de trabalho (pareço o Silvio Santos) urra – Senta sua anta. Eu obedeci e sentei. O cara levou grana de todo mundo e o carro de um dos funcionários. Acabou a aventura? Que nada. Um dos seguranças do posto bancário resolveu reagir. O cara era completamente desequilibrado. Ele dava mais medo do que toda a quadrilha invasora. Por sorte, os bandidos tinham bom senso e queimaram o chão.
Como nada é inútil nesta vida, exceto o BBB, esta tragicômica experiência me serviu de aprendizado. Como uma paulistana da nata, fui assaltada outras vezes. Sempre fiquei calma, nem por isso menos comunicativa. Cheguei inclusive a negociar com alguns dos assaltantes para não perder os documentos. Pior que ser assaltado é ter que passar horas a fio no Poupatempo. Acho que tenho boa lábia. Já pensei que devo sofrer da Síndrome de Estocolmo, é comum durante este tipo de evento eu  me simpatizar com os meliantes, peço e-mail, facebook e celular.
Enfim, para tudo há uma primeira vez. A sacada é aprender logo de cara para se sair melhor na segunda, terceira, quarta vez.
 
Marot Gandolfi

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