5 horas da manhã, madrugada rolando solta, uma sequência de apitos me desperta do sono profundo. Em segundos sou remetida a um passado distante.
Incrédula, relembro uma época em que me sentia segura. Não tinha sequer noção de perigo. O grande risco era me machucar nas corridas desenfreadas brincando de pega-pega, cabra cega, esconde-esconde.
As casas não eram fortalezas. Sem alarme, grade, cerca elétrica, interfone, câmera. Bastava passar a chave na porta e todos estavam sãos e salvos.
O guarda da rua nos conhecia pelos nomes e ninguém melhor para nos proteger do que aquele que apitava a noite inteira em seu veículo de duas rodas não motorizado. Aos domingos compartilhava pizza conosco e nas noites frias ganhava café com leite bem quentinho. Sabíamos os nomes e idades de seus filhos. Tempo bom.
Diferente do atual cenário. Chego em casa e me deparo com um cara da segurança em pé ostentando sua arma na porta do prédio. Outro dentro da viatura. Só sabem quem eu sou porque tenho um adesivo no para-brisa do carro. Truculentos e de cara amarrada não esboçam nem um ameaço de sorriso. A fisionomia dos leões de chácara chega a me assustar mais do que a feição de um ladrão. Tempos modernos.
Ao ouvir de novo o som do apito, corri para a janela na tentativa em vão de reencontrar o herói da minha infância. Doce ilusão. O som da antiga proteção vem das pastilhas de freio, já gastas, de um caminhão em busca de um lugar amoitado para descarregar seu lixo.
Os que beiram os cinquenta conhecem o que descrevo e devem sentir saudade do tempo em que éramos felizes e não sabíamos.
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