sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

8 ou 80



Sou exagerada. Na minha humilde opinião e na de todo o universo. 8 ou 80.
Ultrapasso meus limites o tempo todo e eles até que são bem flexíveis.
Tudo é extremo. Trabalho, amor, paixão, ajuda ao próximo, atividade física – que dura pouco, mas quando acontece é intensa.
“Exagerado” do Cazuza é meu hino. Nada é morno. Fervendo ou gelado. Salgado ou melado, jamais sonso.
Brecha na agenda? Never.  Se descubro um mísero vão, encaixo algo imediatamente.
Sedentária por natureza, envergonhada perante aos meus amigos, sem falar nos discursos infindáveis dos médicos, decido começar uma atividade física. Depois de inúmeras tentativas fracassadas, chego à conclusão que devo fazer algo que me dê o mínimo de prazer. Por que escrever não queima calorias, Cacilda? Afinal escrever também libera endorfinas. Eureca! Vou jogar tênis. Compro uniforme, raquete, tênis apropriado, munhequeira, contrato o professor. Faço uma aula teste e para minha agradável surpresa, foi o máximo.
Poderia fazer duas vezes por semana como qualquer pessoa normal, certo? Errado. Estou falando de mim. Durante um ano tive aula 5 dias por semana. Comecei a jogar bem, arrisquei alguns “aces” e ganhei uma lesão no ombro. Resultado: fiquei meses sem conseguir escovar o cabelo e os únicos exercícios foram sessões infinitas de fisioterapia.
Sem condições físicas, parei. Um ano depois, matriculei-me numa academia de Pilates. No primeiro mês até foi que legal. Como era de se esperar, não demorou para perceber que Pilates não é para exagerados. Muito tranquilo. Gastei uma fortuna e cai fora.
Todo começo de ano me proponho a ter hora para fechar o boteco, encerrar o expediente em horário normal. Dura mais ou menos dois meses. Em março, chego à exaustão.
Sem uma gota de energia me atiro na cama – deitar é lento demais para mim – caio como uma pedra e em segundo em sono profundo. Nem assim desligo. Acordo, acendo o abajur, pego na minha mesinha de cabeceira o meu caderninho manchado com a xícara de chá que insisto em levar para a cama todas as noites, mas desmaio antes de sorver metade do líquido. Anoto milhões de ideias, trabalho, crônicas, um modelito para uma festa, um arranjo para a sala de jantar, uma ação social para melhorar a vida de uma comunidade carente. O céu é o limite.
Falando em mesinha de cabeceira, o tal bloquinho fica em cima de oito livros que quero ler - a réplica da Torre de Pisa. Mês a mês, a tal pilha cresce vertiginosamente.
Recentemente entrei numa maratona. Trabalho, vida social, ações comunitárias. 14 horas por dia ligada no 220 v. Fiquei felizinha da silva e de brinde ganhei uma pneumonia. Conversando com uma amiga, falei: Não entendo o que aconteceu.  Eu sempre fui assim. Desde os 19 anos trabalho como uma louca, sempre engajada em uma atividade, tento resolver os problemas de todo mundo. Ela diz categoricamente: Eu sei querida. Você sempre foi hiperativa, mas você nunca teve quarenta e seis anos. Aquilo foi um soco no ovário. Pensei em romper a nossa amizade de 29 anos. E ela está certa. Venho testando meus limites há anos.
Já que o tempo é implacável e a idade está galopando talvez com ela chegue a tal sensatez. Quem sabe eu consiga dosar melhor. O desafio máster é que ainda não aprendi a ser de outro jeito. Ta aí uma excelente oportunidade de mudar.

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