Sou exagerada. Na minha humilde opinião e na de todo o
universo. 8 ou 80.
Ultrapasso meus limites o tempo todo e eles até que são bem
flexíveis.
Tudo é extremo. Trabalho, amor, paixão, ajuda ao próximo,
atividade física – que dura pouco, mas quando acontece é intensa.
“Exagerado” do Cazuza é meu hino. Nada é morno. Fervendo ou
gelado. Salgado ou melado, jamais sonso.
Brecha na agenda? Never. Se descubro um mísero vão, encaixo algo
imediatamente.
Sedentária por natureza, envergonhada perante aos meus
amigos, sem falar nos discursos infindáveis dos médicos, decido começar uma
atividade física. Depois de inúmeras tentativas fracassadas, chego à conclusão
que devo fazer algo que me dê o mínimo de prazer. Por que escrever não queima
calorias, Cacilda? Afinal escrever também libera endorfinas. Eureca! Vou jogar
tênis. Compro uniforme, raquete, tênis apropriado, munhequeira, contrato o
professor. Faço uma aula teste e para minha agradável surpresa, foi o máximo.
Poderia fazer duas vezes por semana como qualquer pessoa
normal, certo? Errado. Estou falando de mim. Durante um ano tive aula 5 dias
por semana. Comecei a jogar bem, arrisquei alguns “aces” e ganhei uma lesão no
ombro. Resultado: fiquei meses sem conseguir escovar o cabelo e os únicos
exercícios foram sessões infinitas de fisioterapia.
Sem condições físicas, parei. Um ano depois, matriculei-me
numa academia de Pilates. No primeiro mês até foi que legal. Como era de se
esperar, não demorou para perceber que Pilates não é para exagerados. Muito
tranquilo. Gastei uma fortuna e cai fora.
Todo começo de ano me proponho a ter hora para fechar o
boteco, encerrar o expediente em horário normal. Dura mais ou menos dois meses.
Em março, chego à exaustão.
Sem uma gota de energia me atiro na cama – deitar é lento
demais para mim – caio como uma pedra e em segundo em sono profundo. Nem assim
desligo. Acordo, acendo o abajur, pego na minha mesinha de cabeceira o meu
caderninho manchado com a xícara de chá que insisto em levar para a cama todas
as noites, mas desmaio antes de sorver metade do líquido. Anoto milhões de ideias,
trabalho, crônicas, um modelito para uma festa, um arranjo para a sala de
jantar, uma ação social para melhorar a vida de uma comunidade carente. O céu é
o limite.
Falando em mesinha de cabeceira, o tal bloquinho fica em cima
de oito livros que quero ler - a réplica da Torre de Pisa. Mês a mês, a tal
pilha cresce vertiginosamente.
Recentemente entrei numa maratona. Trabalho, vida social,
ações comunitárias. 14 horas por dia ligada no 220 v. Fiquei felizinha da silva
e de brinde ganhei uma pneumonia. Conversando com uma amiga, falei: Não entendo o que aconteceu. Eu sempre fui assim. Desde os 19 anos trabalho
como uma louca, sempre engajada em uma atividade, tento resolver os problemas
de todo mundo. Ela diz categoricamente: Eu
sei querida. Você sempre foi hiperativa, mas você nunca teve quarenta e seis
anos. Aquilo foi um soco no ovário. Pensei em romper a nossa amizade de 29
anos. E ela está certa. Venho testando meus limites há anos.
Já que o tempo é implacável e a idade está galopando talvez
com ela chegue a tal sensatez. Quem sabe eu consiga dosar melhor. O desafio máster
é que ainda não aprendi a ser de outro jeito. Ta aí uma excelente
oportunidade de mudar.
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