Uma amiga se foi. Enfrentou bravamente um linfoma que se espalhou covardemente por todo seu corpo. Ele venceu, mas ela deu muito trabalho a ele. Não se entregou num só minuto.
Tenho certeza que a morte não é o fim de tudo, a uma vida continua, agora com muito mais propósito. Ainda estou num estágio de evolução que não me permite simplesmente não pensar neste momento: E agora? E só isso mesmo?
Confesso que não tive coragem de ir ao velório, nem ao enterro. Percebi que não sou a fortaleza que prego aos quatro ventos. Meu marido foi e me ligou para falar que nunca tinha visto tanta flor e que a família, ao invés de deixar o caixão aberto, colocou um destes porta-retratos eletrônicos com fotos dela. Uma ideia maravilhosa, digna desta querida amiga.
Toda santa vez que eu a via, ela estava sorrindo. Não um sorriso de hiena, um sorriso franco, contagiante. É assim que eu me lembro dela e é assim que eu quero me lembrar, sempre.
Não me sai da cabeça a dor que suas filhas e seu marido estão sentindo. Não é uma revolta, é pura saudade. Chega a ser uma dor física, quase dá para pegar com as mãos.
Neste mesmo dia, recebi um e-mail sobre a velhice que me tocou lá no fundo. Quando crianças, nossos pais, munidos de paciência de monge tibetano, nos ensinam a usar os talheres, a amarrar os sapatos, a nos vestir, a nos expressar. Crescemos, passamos isso aos nossos filhos e chega nossa vez de reaprender isso com nossos herdeiros, que nem sempre tem a tal paciência. A velhice é cruel.
Não pude me furtar a pensar sobre isso. Morrer jovem, como minha amiga, é doloroso para quem fica. Partir com idade avançada é doloroso para quem vai.
Muitas vezes, eu me imagino idosa, com todo este gás e iniciativa que sempre tive, mas com meu corpo não respondendo. Ter que depender de alguém para ir e vir. Conviver com esta limitações é simplesmente apavorante.
Se temos sempre que pensar em algo positivo mesmo numa situação que aparentemente seja terrível, ao menos minha amiga não precisou passar por isso.
O que sei é que a vida ficou menos bonita sem sua alegria, simpatia contagiante, força de vontade para enfrentar tudo e todos.
Marot Gandolfi
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