terça-feira, 21 de junho de 2011

Tem que ter um motivo

Hoje estou triste, profundamente triste.
Uma amiga se foi. Enfrentou bravamente um linfoma que se espalhou covardemente por todo seu corpo. Ele venceu, mas ela deu muito trabalho a ele. Não se entregou num só minuto.
Tenho certeza que a morte não é o fim de tudo, a uma vida continua, agora com muito mais propósito. Ainda estou num estágio de evolução que não me permite simplesmente não pensar neste momento: E agora? E só isso mesmo?
Confesso que não tive coragem de ir ao velório, nem ao enterro. Percebi que não sou a fortaleza que prego aos quatro ventos. Meu marido foi e me ligou para falar que nunca tinha visto tanta flor e que a família, ao invés de deixar o caixão aberto, colocou um destes porta-retratos eletrônicos com fotos dela. Uma ideia maravilhosa, digna desta querida amiga.
Toda santa vez que eu a via, ela estava sorrindo. Não um sorriso de hiena, um sorriso franco, contagiante.  É assim que eu me lembro dela e é assim que eu quero me lembrar, sempre.
Não me sai da cabeça a dor que suas filhas e seu marido estão sentindo. Não é uma revolta, é pura saudade. Chega a ser uma dor física, quase dá para pegar com as mãos.
Neste mesmo dia, recebi um e-mail sobre a velhice que me tocou lá no fundo. Quando crianças, nossos pais, munidos de paciência de monge tibetano, nos ensinam a usar os talheres, a amarrar os sapatos, a nos vestir, a nos expressar. Crescemos, passamos isso aos nossos filhos e chega nossa vez de reaprender isso com nossos herdeiros, que nem sempre tem a tal paciência. A velhice é cruel.
Não pude me furtar a pensar sobre isso. Morrer jovem, como minha amiga, é doloroso para quem fica. Partir com idade avançada é doloroso para quem vai.
Muitas vezes, eu me imagino idosa, com todo este gás e iniciativa que sempre tive, mas com meu corpo não respondendo. Ter que depender de alguém para ir e vir. Conviver com esta limitações é simplesmente apavorante.
Se temos sempre que pensar em algo positivo mesmo numa situação que aparentemente seja terrível, ao menos minha amiga não precisou passar por isso.
O que sei é que a vida ficou menos bonita sem sua alegria, simpatia contagiante, força de vontade para enfrentar tudo e todos.

Marot Gandolfi

Nenhum comentário:

Postar um comentário