sexta-feira, 11 de março de 2011

O primeiro porre

Nunca fui chegada a bebidas. Nada contra. Quando bebo fico com sono e não consigo falar o que para mim é a pior penitência.
Não tenho paladar refinado, gosto um pouco de bebidas doces, caipirinha com muito açúcar, batidas com leite condensado e licor.
Apreciadores de vinho encorpado, de uísque envelhecido ou de um chopp bem tirado se esforçam para entender a minha total falta de noção. É uma questão de paladar. Troco tudo por uma Coca-Cola geladinha, zero claro.
Aos 20 e poucos anos saía com uma turma de dez a doze elementos chegadíssimos num álcool. Todos os finais de semana, incluindo às sextas-feiras, jogávamos. Participávamos de vários torneios.
Nosso ponto de encontro era num bar na Vila Madalena, naquela época ainda não era cool, batizado como Virgílio de Carvalho a Quatro. Simpático, não? Jogávamos até às cinco horas da manhã. Todos bebiam como bodes e eu na minha coquinha gelada. Ninguém comia. Me espanto até hoje como o fígado destas criaturas era resistente.
Fomos para a praia num fim de semana. Para não fugir ao costume, jogamos. Eles beberam. Naquela casa nada se salvava. Qualquer coisa era usada no preparo de rabo de galo, maria mole, bombeirinho. Até cebola.
No final da partida que estava praticamente empatada, eu entendi que o meu parceiro havia feito um sinal que estava com o “zap” – a carta mais valiosa do jogo. Eu tinha em minhas mãos a manilha de copas, a segunda carta mais importante. Entrei em êxtase, subi na mesa, berrei TRUCO na orelha do meu adversário. Chique, fino, sofisticado.
Ele surtou. Ficou roxo. Gargalhou como um demente alucinado e urrou – Baixa marreca!Como já era de se esperar, a sorte estava lançada. Ambos estavam crentes que venceriam. Inevitavelmente veio a aposta, o ponto alto do jogo. Propus que se ganhássemos, meus oponentes ficariam sem beber por 24 horas. Algo completamente impossível para aqueles seres. Numa fração de segundo, lançaram a contraproposta – se perdêssemos, cada um de nós teria que tomar um copo de 200 ml de vodca pura. Para mim seria a morte, para meu parceiro o paraíso.
Entendi errado o sinal do meu companheiro, provavelmente o infeliz estava tirando cera do ouvido. Me dei mal.
Sendo o meu signo escorpião, cumpri minha palavra. Promessa é dívida. Mesmo que tivesse que ir de ambulância para o primeiro pronto-socorro do SUS. Derramei aquele fel garganta adentro num gole só. Senti o esôfago em chamas.
No dia seguinte mal conseguia levantar. Mau humor, enxaqueca, a bateria da Vai Vai aquecia dentro do meu cérebro e nem era Carnaval. Uma absurda dor no “figo” acabou com minha alegria. Só uma amiga querida e detentora de bom senso, uma raridade por lá, conseguiu me ajudar, levando chazinho, epocler, sal de fruta.
Meu parceiro foi encontrado deitado na areia da praia com um cachorro lambendo sua boca.
Foi traumatizante.
Continuo incompetente para beber, defeito de nascença. Este episódio marcante na minha história etílica ocasionou um profundo pavor do day after.
Ainda tenho tempo para evoluir. Estou investindo nisso, a passo de lesma, mas chego lá.
Marot Gandolfi









2 comentários:

  1. Ro, amei, me fez voltar ao tempo, que saudades!, sadia, é claro, disso tudo. Jamais iremos esquecer esses momentos. Que memória, lembrar o nome do bar Virgílio..rs..bjs Tila

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  2. Ti querida,
    Foi um tempo bom, não é mesmo? Foi fazer uma crônica sobre o carro, lembra que viajamos com a porta aberta e choveu dentro?
    Temos mais coisas para contar,,,me ajude a lembrar.

    Beijo enorme

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