sexta-feira, 4 de março de 2011

É duro ser o 3º filho

O casal decide ter um filho. Tudo é lindo. Na maioria das vezes, planejado. Os progenitores curtem desde o dia que o exame da farmácia ou o beta HCG confirmam a vinda do rebento.
Nem os enjoos do primeiro trimestre que, para algumas santas criaturas, perduram até o final, tiram a alegria indígena. A azia é encarada com a maior naturalidade no melhor estilo dragão de ser. Falta só a mamãe de primeira viagem cuspir fagulhas de tanta queimação. Faz parte do show.
O primeiro ultrassom é uma emoção. Aquele feijãozinho pulsando no útero. O segundo já é um limãozinho. O terceiro uma laranja. No quinto mês então que já é possível ver todo o bebê, o casal entra em êxtase frenético. O médico do ultrassom precisa de capa de chuva e não avental de tanto que o papai e a mamãe soluçam. Quando vi o ultrassom da minha filha, o alucinado do meu marido urrou Que linda! Eu não conseguia entender o que era aquilo na tela. Olhava de frente, de lado, de ponta cabeça. Fiquei com medo. Tudo bem quem ama o feio bonito lhe parece, mas aquilo era demais. No momento do parto, quando ela foi retirada do meu abdômen, ele grita: É a mesma carinha do ultrassom. Quase sai correndo da mesa de cirurgia.
A escolha dos móveis, que fase deliciosa, quando não se vê o preço, é claro. A decoração com tudo combinandinho, roupinhas, lembrancinhas e todas as inhas possíveis e imagináveis.
Contam-se os meses, dias, horas que faltam para vir ao mundo a nossa melhor criação.
Quando chega é só babação. Excesso de zelo, cuidado, neurose. Não pode tomar vento, não pode ficar perto de quem está com perfume, tudo é esterilizado, as roupinhas lavadas com sabão em pó especial, se nasce no inverno aí é uma loucura. A casa inteira é lacrada. Se não tomou ainda as primeiras vacinas, não põe o nariz para fora. Temos um casal amigo que dava banho na primeira filha com água mineral! A quantidade de fotos que tiramos do primeiro filho é surreal. A mesma foto em todos os ângulos. Tenho mais de 2000 fotos da minha pequena.
Isso sempre acontece com o primogênito, exceto quando há uma diferença de idade, como no meu caso. Dois filhos únicos.
Tenho um amigo que botou no mundo quatro filhos com diferença de dois anos entre eles. O primeiro seguiu os mesmos passos tradicionais. O segundo, uma menina, também teve fricotes, principalmente no quesito vestuário. Veio então o terceiro. Este já usava algumas das roupas da segunda cria, verdes, azuis e amarelas, porque rosa seria demais. Já sentia uma brisa em seus ralos cabelos, o leite era em temperatura ambiente, não dava tempo nem de esquentar. Aí chegou o quarto. Este já é independente desde que nasceu. Faz sua própria mamadeira, troca sozinho sua fralda, abre a geladeira e tem o discernimento para pegar o danoninho e não escorregar sua minúscula mão na lata de cerveja e quando esta doente elabora uma planilha para saber quando tomar os remédios. Banho? Se der tempo toma, se não um baby wipes resolve o problema. Roupas, ele cata o que sobrou no cesto de roupas sujas. Fotos então tem apenas uma que por acaso estava pulando atrás dos irmãos. Uma espécie de papagaio de pirata.
Pode parecer para os segundo, terceiro, quarto filhos que não são importantes para os pais. Não é esta questão. No primeiro herdeiro, o casal tem mais tempo e mais medo. Erra pra caramba.
Do segundo em diante, percebem o quanto pisaram na bola. A criação fica mais solta, mas não menos responsável.
Não é à toa que o terceiro e quarto filho são bem mais resolvidos. Se viram sozinhos, topam tudo, colaboram em casa, não tem tempo feio.
Há uns anos, havia um adesivo para carro que dizia “Tenha filhos, leve uma vida selvagem.” Eu discordo. O meu sticker seria “Tenha filhos e leve uma vida sem tédio".
Marot Gandolfi









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