Por que será que o celular toca sempre nas horas mais inconvenientes? Tirando o fato que o dono do aparelho sempre esquece de colocar no modo vibra ou simplesmente desligá-lo.
Talvez seja a lei de Murphy e o dito toque nas horas mais inoportunas.
Tenho frequentado velórios e missas de 7º dia muito mais do que gostaria nos últimos três meses. Foram cinco enterros. Faz parte da vida, ainda mais nesta idade, os pais estão caminhando rumo à cidade eterna.
Num destes velórios, momentos antes do caixão ser fechado, os parentes inconsoláveis, o padre fazendo a prece, todos em silêncio, começa a apitar um celular. Todos se olham e o aparelhinho irritante à medida que tocava aumentava o volume. O dono do infeliz não sacou que era o dele que urrava Me atenda, por favor. Segundos depois, o tormento recomeçou. O cara percebeu o fora, ficou roxo e de nervoso não conseguia desligar o bicho. O morto quase levantou do sarcófago para dar um fim naquele troço.
Na missa de 7º dia a mesma coisa, sorte que não do mesmo defunto. Quando o celular começou a berrar, todo mundo parou de prestar atenção no padre e procurou alucinadamente nos bolsos dos paletós, dentro das bolsas, das mochilas. O aparelho não parava. Foi um frenesi. Descobri que a preferência nacional é por Nokia. Deve ser a líder de mercado entre os católicos.
A pior de todas foi na primeira reunião de escola. Os pais entrando na sala de aula, um a um, silenciosamente, ninguém se conhecia. A professora começou a explanação com uma seriedade assustadora. Um celular começa a tocar freneticamente com um toque pra lá de bizarro – “La vem o negão, cheio de paixão, te catar, te catar”. Era o aparelho de uma mulher perua até o último fio de cabelo, óculos Dolce & Gabbana, bolsa Prada, no melhor estilo Daslu (dos áureos tempos). Surreal. Todo mundo querendo morrer de rir. Ninguém prestou atenção em mais uma palavra da explanação da teacher. Todos rezavam para acabar logo o sofrimento para poder sair e morrer de rir. Eu não consigo prender o riso. Lágrimas escorriam dos meus olhos, meu estomago doía de tanto que segurei a gargalhada.
Minha filha me orientou a não colocar casa ou home na agenda. Se for sequestrada, os meliantes não saberão meus dados pessoais. Eles estarão com minha carteira, RG, CPF, Habilitação, Cartões de Crédito, Talão de Cheques, Cartões de Visita. Mas o telefone de casa não. Eu quero mais é que eles avisem alguém da minha família, pelo amor de Deus. Seguindo o conselho da perua mirim identifiquei o telefone de casa como Hospício.
O celular facilitou a vida de todos nós, não há a menor dúvida. Somos dependentes. Porém existe um código de ética para usá-lo. Em restaurantes, saia do recinto. Nas reuniões, coloque no vibra. Não escolha toques que podem constranger você ou qualquer outra criatura.
É uma questão de educação.
Marot Gandolfi
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