quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A saga da farmácia

Será que sou eu ou mais alguém se irrita muito com a ineficiência dos caixas em farmácias?
Talvez eu seja tão impaciente,  ligada no 220 o tempo todo que minha tolerância está cada vez menor. Confesso que este não é realmente meu ponto forte. É provável que eu tenha vindo nesta vida para aprender a arte de esperar. Pelo andar da carruagem terei que reencarnar mais algumas vezes para assimilar. 
Sei lá se é perseguição ou a tal lei da atração.
Eu tomo um remédio há mais de 1 ano. Já é suficientemente chato ter que tomar uma droga todo dia, fora o fato que o bicho custa R$ 285,00 que poderiam ser gastos de uma forma muito mais divertida e proveitosa. 
Todo santo mês tenho que desembolsar esta grana. Pior do que gastar nisso é parar na farmácia. Já tentei várias, mas todas tem o mesmo nível de lesmice para atender. Por conta disso, deixo acabar o remédio para no dia seguinte fazer um pit stop na drogaria e pagar de forma torturosa a minha promessa. Ontem foi dia!
Chego à farmácia e mostro a receita que é controlada e deve ser retida. O rapazinho olha, lê, lê mais um pouco e, depois que percebe que não entende absolutamente nada do que está escrito, ele vai a passos lentos, quase se arrastando até o farmacêutico de plantão. A criatura formada em farmácia pára o que está fazendo, lê, analisa, cheira e olha para mim demoradamente, analisando-me friamente. Sempre esqueço de perguntar ao meu médico se este remédio é feito com cocaína. Toda vez que vou comprar o farmacêutico me lança um olhar desconfiado, me mede da cabeça aos pés e quase cheira minha boca.
Ele vai sorrateiramente até um armarinho trancado a sete chaves, retira a jóia (com este preço tem mais é que ficar guardado num cofre), e volta pasmadamente ao meu encontro.
Nessa altura do campeonato eu já dormi. Acordo, seco a baba e olho para o acusador. Ele me pede o documento, preencho um cadastro com todos os meus dados (só falta a data em que perdi a virgindade) e ele escreve uma epístola no verso da receita que fica com eles. Até hoje não sei o que ele tanto rascunha.
Só então ele entra no sistema do laboratório para a autorização do cupom de desconto. O laboratório é sagaz. Se não facilitar um pouco ninguém compra este medicamento, quase tenho que vender um rim para adquirir o dito cujo.
Bingo! Sistema fora do ar. Fiquei tão feliz que quase dei um beijo de língua no rapaz, mas ele não fazia meu tipo. Se bem, que do jeito que a vida tem caminhado, não estou podendo escolher muito. O que cair na rede é peixe.Após 30 minutos tentando se conectar com o maldito programa, ele consegue. Acabou o suplício. Que nada, começou outro. Vou para a fila do caixa. Há 3 caixas, mas só um funcionando. Nunca vi nesta farmácia todos os guichês ativos. Por que será que eles ocupam espaço na loja? Um dia, quem sabe, conseguirei entender a charada.
A moça na minha frente comprou a farmácia. Tudo que existia na loja. Um de cada. Quando a caixa estava passando no leitor ótico o último item, a “freguesa” lembra-se que esqueceu de comprar shampoo. Que meiga. Pensei cá com meus neurônios, aproveite para escolher a máscara, condicionador, antifrizz, silicone e ampolas para sua maravilhosa cabeleira, Dalila!
Chegou minha vez. A mocinha já cansada de tanto trabalhar, afinal o trabalho é estafante, me atende com uma boa vontade e uma alegria quase indígena. No mesmo compasso de tartaruga de seus outros companheiros do estabelecimento, passa os itens da minha compra. Pago e vou embora. Já em desespero, porque mês que vem tem outra saga a cumprir.


Marot Gandolfi

2 comentários:

  1. Compra duas caixas e parcela no cartão! 50% menos estresse, que tal? rsrrs

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  2. Adorei esta cronica. Voce escreve gostoso. Posso escutar a sua voz e imaginar suas caras e bocas no jeito que escreve. Divertido, leve, solto, conciso e interessante. A sua estoria prende o leitor. Adorei, Marot. Aliás, adorei seu blog tambem. Descobri hoje a existencia dele. Sensacional! E com relaçao à farmácia, voce tem razao. No lugar dos caixas desativados, eles poderiam colocar as espreguiçadeiras. Que tal? Com certeza teria mais utilidade...rs. Sucesso a você. Sandra

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